Um dia depois da celebração do Dia Nacional da Música Popular Brasileira, em 17 de outubro, voltou à roda a pergunta simples e complexa: o que é MPB? A questão não é nova — há décadas ela aparece em salas de aula, rodas de conversa e redes sociais.
Vozes em discussão
Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), por exemplo, a dúvida permeou as aulas de História da Música Popular Brasileira por cerca de 38 anos. Os estudantes respondiam de formas variadas: uns citavam o samba, outros apontavam maracatu ou samba-reggae. Para o professor Tom Tavares, essas respostas não se excluem — juntas, ajudam a desenhar o que entendemos por MPB.
Na definição direta do professor: “Eu considero que a Música Popular Brasileira é tudo em termos de música que é produzido no Brasil ou por brasileiros.” Ele lembra que a música é também um produto — não no sentido mercantilista, mas como algo que circula, se consome e se reconhece.
MPB nas plataformas e na história
Hoje, porém, serviços de streaming tendem a tratar a MPB como um gênero bem delimitado. Playlists destacam sobretudo artistas ligados aos movimentos das décadas de 1960 e 1970 — rock, bossa nova, tropicália — e trazem nomes como Maria Bethânia, Gilberto Gil, Elis Regina, Milton Nascimento e Erasmo Carlos, muitas vezes com a etiqueta: “Canções que ajudaram a escrever a História da Música Popular Brasileira”.
O próprio termo ganhou força com o Festival de Música Popular Brasileira, criado em 1960 no Guarujá (São Paulo). Foi ali, em 1967, que o público conheceu apresentações decisivas de Gilberto Gil e Caetano Veloso — com “Domingo no Parque” e “Alegria, Alegria” — e o festival aconteceu ininterruptamente de 1965 a 1969.
Uma data e uma homenageada
Em 9 de maio de 2012, a data nacional da MPB foi formalizada por decreto da então presidente Dilma Rousseff, e a homenagem foi para Chiquinha Gonzaga, nascida em 17 de outubro de 1847. Chiquinha, carioca filha de José Basileu Neves Gonzaga e Rosa, atuou desde a década de 1870: compôs choros e músicas para teatro, regeu orquestras e fez sucesso com a marcha “Ó Abre Alas” em 1899. Foi fundadora e patrona da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), ocupando a cadeira n.º 1, e faleceu no Rio de Janeiro em 28 de fevereiro de 1935.
Sobre Chiquinha, Tom Tavares comentou: “Ela foi uma pessoa que mandou ver, passou por cima de obstáculos, criados pela sociedade de então.”
MPB hoje: rótulo ou movimento?
Quando se fala em “nova MPB”, o professor cita artistas contemporâneos que aparecem em coletâneas e playlists — como Liniker, Anavitória, Lagum e Os Gilsons — e chama a expressão de um rótulo de mercado. “É o marketing dizendo: ‘Ó, esses são os novos produtores de música popular brasileira’”, disse Tavares, lembrando que isso não invalida os demais artistas.
Ele ainda faz um alerta: afirmar-se como novo exige criar algo realmente diferente. Repetir signos já consagrados pelos ídolos do passado, segundo ele, se assemelha à operação de uma inteligência artificial — que reorganiza o velho, mas dificilmente inventa o novo.
No fim, a pergunta sobre o que é MPB segue aberta. Há leituras acadêmicas, visões de mercado e percepções artísticas que se sobrepõem e se cruzam. Talvez a resposta mais honesta seja aceitar a pluralidade: MPB pode ser gênero, história, movimento — ou tudo isso junto.