A Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO) está pedindo a empregadores e autoridades dos Estados Unidos que apoiem oito princípios para proteger trabalhadores diante da expansão da inteligência artificial. A entidade, que reúne 63 sindicatos e cerca de 15 milhões de trabalhadores, quer regras claras para evitar danos e garantir que a tecnologia sirva ao conjunto da sociedade — não só aos acionistas.
Por que isso importa
Em poucas palavras: a IA muda o trabalho. E quando a tecnologia entra no dia a dia, quem sente o impacto primeiro são os trabalhadores. A AFL-CIO defende que eles tenham voz desde o início — no desenvolvimento, na implantação e nas negociações sobre como essas ferramentas serão usadas.
O texto ressalta que incluir trabalhadores em todas as etapas ajuda a criar sistemas mais seguros e úteis. Como diz o documento, a participação dos trabalhadores na pesquisa, no desenvolvimento e nas negociações coletivas é essencial para que a IA fortaleça instituições democráticas e proteja serviços públicos.
Enquanto a Casa Branca recebeu muitas ferramentas por meio do plano de ação de IA, estados e governos locais começaram a disputar quem define regras. Um exemplo: a Califórnia aprovou um projeto, apoiado pela AFL-CIO, que exigia supervisão humana em demissões assistidas por IA — mas a proposta foi vetada pelo governador Gavin Newsom.
Os oito princípios
A seguir, os pontos principais que a AFL-CIO pede para orientar empresas e autoridades:
- Fortalecer direitos trabalhistas e negociação coletiva: a adoção de tecnologia no trabalho precisa ser negociada; quando houver deslocamento, devem existir aviso prévio, apoio à renda, reemprego e treinamento.
- Proteções contra usos nocivos no local de trabalho: trabalhadores devem saber que dados são coletados, dar consentimento claro e ter como recorrer de decisões automatizadas.
- Direitos autorais e propriedade intelectual: exigir consentimento e remuneração quando trabalhos criativos forem usados para treinar sistemas generativos.
- Treinamento centrado no trabalhador: programas de qualidade, em parceria com sindicatos, para requalificação e adaptação a novas funções.
- Voz dos trabalhadores na P&D: inclusão de trabalhadores e sindicatos em projetos financiados pelo governo e em processos de pesquisa para evitar erros na implementação.
- Transparência e responsabilização: decisões automatizadas devem ser explicadas de forma acessível, revisadas por humanos e passíveis de recurso sem retaliação.
- Boas práticas em compras públicas: órgãos governamentais devem exigir que sistemas de IA protejam o interesse público, a privacidade e os direitos dos trabalhadores.
- Proteção de direitos civis e integridade democrática: proibir usos discriminatórios e responsabilizar quem usa IA para produzir desinformação ou minar processos democráticos.
Além disso, o documento lembra que o movimento sindical e sua rede de centros de formação são, depois do Departamento de Defesa, a maior instituição de treinamento do país. A sugestão é trabalhar com sindicatos em programas de alfabetização digital e em formação em IA.
Mas como garantir que esses princípios saiam do papel? A AFL-CIO pede que empresas e autoridades adotem essas regras e, acima de tudo, que incluam trabalhadores desde o início dos processos de pesquisa, desenvolvimento e negociação coletiva. Isso, segundo a entidade, é a melhor forma de reduzir riscos e orientar uma adoção responsável da IA no ambiente de trabalho.