Em Itapuã, a história da Unidos de Itapuã é sobre transformação: começou pequena como um centro de percussão e assistência social e foi virando, passo a passo, uma escola de samba enraizada no bairro.
Como começou
Em 2007, cinco músicos decidiram ensinar samba à comunidade. O objetivo era simples: transmitir conhecimento. Com aulas e repetição, nasceu uma bateria; com apoio da comunidade e da velha guarda, o projeto ganhou alas, alegorias e a figura do mestre-sala e porta-bandeira — elementos que consolidaram a mudança de um “centro de estudos” para uma escola completa.
O resgate das tradições locais também foi essencial. A ligação com o Terno de Reis e a Folia de Reis ajudou a formar a identidade da agremiação, trazendo referências e saberes que vêm de gerações.
Presenças e desafios
Nas saídas públicas, a Unidos de Itapuã costuma reunir, em média, pouco mais de 100 pessoas, embora esse número varie conforme o evento. Em apresentações no Pelourinho, por exemplo, a presença caiu para cerca de 50 integrantes — uma redução ligada a dificuldades de mobilidade no percurso e à necessidade de recursos via editais culturais para bancar deslocamentos maiores.
Os desafios foram diversos:
- recursos financeiros limitados;
- mudanças no circuito do Carnaval, com expansão do trio elétrico e blocos que alteraram espaços tradicionais;
- limitações logísticas que dificultaram participações fora do bairro.
Pandemia e manutenção
A pandemia de Covid-19 foi um momento crítico. Com apresentações em hotéis e projetos de verão suspensos, a escola ficou sem suas fontes de renda e precisou usar recursos próprios para sobreviver. Como descreveu o gestor Nailton Maia, “uma das maiores dificuldades nossa foi durante a pandemia e no pós… tivemos que tirar do nosso bolso”.
Voltar para o bairro
Diante da falta de espaços adequados para apresentar o samba como cultura, a Unidos de Itapuã passou a reforçar seus desfiles e ensaios no próprio bairro, aproveitando celebrações locais como a Lavagem de Itapuã para manter viva a presença cultural e a conexão com a comunidade.
O Circuito das Águas
O desejo de oficializar um percurso local já vinha de longa data. Segundo Celso Di Niçu, organizador da Lavagem de Itapuã, o circuito tem raízes desde a inauguração em 1980, com desfiles que começam na Lagoa do Abaeté e terminam na Sereia, evocando as águas doces de Oxum e as salgadas de Iemanjá.
O anúncio de que o trajeto será reconhecido como circuito oficial do Carnaval de Salvador em 2026 foi apresentado como uma forma de dinamizar a festa e descentralizar as celebrações. Para a direção da escola, a oficialização representa uma oportunidade para reivindicar mais espaço e visibilidade ao samba tradicional, num momento em que se debate até a criação de estruturas como um sambódromo.
Olhar adiante
Para a comunidade e a diretoria, a meta é clara: recuperar o espaço que o samba merece na cidade. Nas palavras de Nailton Maia, “o samba precisa voltar para o lugar onde ele merece aqui em Salvador”. É um chamado por mais espaços, por valorização cultural e por políticas que permitam às escolas de samba seguir transmitindo sua mensagem às próximas gerações.