Pesquisadores da Universidade de Auburn anunciaram uma descoberta inesperada: encontraram sinais de água em um cometa que veio de fora do nosso sistema solar. A pista veio de um tênue brilho ultravioleta associado à hidroxila (OH), que é um subproduto da quebra da água.
Como detectaram
As observações foram feitas em julho e agosto de 2025 com o Observatório Neil Gehrels Swift, usando o Telescópio Ultravioleta/Óptico UVOT. O espelho do instrumento tem cerca de 30 centímetros e operou acima da atmosfera, o que permitiu captar um brilho ultravioleta que telescópios no solo dificilmente veriam.
Para aumentar a sensibilidade, os cientistas empilharam dezenas de exposições curtas: no total, cerca de 42 minutos em luz visível e 2,3 horas em ultravioleta. O alvo foi o cometa interestelar 3I/ATLAS, localizado a quase três vezes a distância entre a Terra e o Sol quando as medições foram feitas.
O que isso significa
A detecção da OH foi interpretada como evidência de que água estava sendo liberada pelo cometa — mesmo a essa grande distância, onde o gelo normalmente ficaria inerte. O Swift estimou uma taxa de perda de água de cerca de 40 quilogramas por segundo — algo comparável ao fluxo de uma mangueira de incêndio em operação.
Como isso pode acontecer tão longe do Sol? Os autores sugerem que pequenos grãos de gelo, soltando-se do núcleo, seriam aquecidos e sublimariam, formando uma nuvem extensa de gás ao redor do cometa. Essa atividade explica por que foi possível detectar a assinatura ultravioleta da OH.
Contexto entre visitantes interestelares
O 3I/ATLAS é o terceiro cometa interestelar confirmado até agora. Cada visitante trouxe surpresas: o primeiro, ʻOumuamua, parecia praticamente seco; o Borisov mostrou muita presença de monóxido de carbono; e o ATLAS revelou liberação de água em condições inesperadas.
“Cada cometa interestelar até agora foi uma surpresa”, resumiu Zexi Xing, autor principal do estudo. Para Dennis Bodewits, da Universidade de Auburn, detectar água — mesmo pelo fraco eco ultravioleta da OH — é como receber uma mensagem de outro sistema planetário.
Próximos passos
O cometa chegou a ficar temporariamente fora do campo de visão, mas era esperado que voltasse a ser observado após meados de novembro de 2025, abrindo novas oportunidades para comparar a química de cometas do Sistema Solar e de fora dele. O trabalho também ressalta o papel que pequenos telescópios espaciais podem ter ao revelar emissões ultravioleta ocultas para observatórios terrestres.
A descoberta foi publicada em artigo no periódico The Astrophysical Journal Letters.
- Instrumento: UVOT no Swift (espelho de 30 cm)
- Alvo: cometa interestelar 3I/ATLAS
- Observações: ~42 min (visível) e 2,3 h (UV)
- Resultado: assinatura ultravioleta de OH — evidência de água
- Taxa de perda: ~40 kg/s