Em Paulo Afonso, na Bahia, pesquisadores chamaram atenção nacional para os tardígrados — pequenos animais que medem entre 0,1 e 1,5 mm e só aparecem ao microscópio. O interesse veio tanto por suas capacidades extremas quanto pelo potencial de aplicações na medicina e na exploração espacial.
Esses seres aparecem em água doce, água salgada, musgos, líquens e solos úmidos e foram achados em praticamente todo o planeta. Cerca de 1.500 espécies já foram identificadas, e estudos sugerem que são parentes próximos de insetos e crustáceos.
Superpoderes em miniatura
Os tardígrados suportam o vácuo e a radiação do espaço, resistem a extremos de temperatura — chegando a tolerar até 150°C — e permanecem viáveis após anos congelados ou completamente desidratados. Em situações de desidratação extrema, eles retraem a cabeça e as patas e entram num estado de animação suspensa: o metabolismo cai para cerca de 0,01% do normal e órgãos ficam concentrados numa pequena área do corpo. Como conseguem voltar à vida depois disso? Essa é uma das perguntas que motivam as pesquisas.
Além disso, registrou-se tolerância a impactos muito fortes: alguns tardígrados sobreviveram a velocidades de até 900 metros por segundo — aproximadamente 3.000 quilômetros por hora — e parecem ter mecanismos que protegem o DNA contra danos causados por partículas e substâncias tóxicas.
Nadja Møbjerg, professora de fisiologia e biologia celular da Universidade de Copenhague, explica que esses animais precisaram desenvolver tanta tolerância porque sua cutícula é muito permeável, ao contrário de insetos que têm uma camada de cera que evita perda de água por evaporação.
Aplicações práticas
As descobertas sobre a resistência dos tardígrados levantaram possibilidades concretas:
- proteger pacientes submetidos à radioterapia, reduzindo danos a tecidos saudáveis;
- armazenar vacinas e proteínas sensíveis — como o Fator VIII usado por hemofílicos — sem depender de refrigeração;
- preservar alimentos e medicamentos em missões espaciais, protegendo-os de radiação e desidratação.
Os tardígrados chegaram a ser enviados à Lua, mas, por causa de um acidente com a nave que os transportava, não se soube se sobreviveram ao pouso.
Os cientistas consideram urgente entender os mecanismos por trás dessa resistência para, no futuro, transformar o conhecimento em soluções clínicas e logísticas. É uma área que mistura curiosidade pura e aplicações práticas — e que ainda tem muito a revelar.