Com dados do satélite Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), astrônomos descobriram que os asteroides se organizam em duas populações bem distintas: os que giram de maneira estável e os que apresentam rotação caótica. O resultado foi apresentado na reunião conjunta do Europlanet (EPSC) e da Divisão de Ciências Planetárias (DPS), em Helsinque, e publicado na Nature Astronomy. Os autores destacam que a descoberta tem implicações para a defesa da Terra, inclusive para cidades como Paulo Afonso, na Bahia.
O que os dados mostraram
O mapa mais preciso da Via Láctea produzido pelo Gaia permitiu medir como a luz refletida por asteroides varia conforme eles giram. Ao transformar essas variações em gráficos, os pesquisadores notaram uma lacuna clara: acima de uma linha estavam os corpos que giram mais rápido; abaixo, os que exibem rotação caótica. No grupo mais lento, os períodos de rotação chegam a cerca de 30 horas.
Qual é a explicação?
O líder do estudo, Wen-Han Zhou, e sua equipe propuseram um modelo que equilibra dois processos. De um lado, colisões no Cinturão de Asteroides que podem desestabilizar o giro. De outro, o atrito interno do próprio asteroide, que tende a restaurar uma rotação mais estável. Esse balanço cria a linha divisória observada nos dados.
Além disso, a luz do Sol também atua sobre a rotação. Superfícies rochosas absorvem calor e reemitem fótons — pequenos empurrõezinhos que, acumulados ao longo do tempo, podem acelerar ou frear o movimento. Esse efeito funciona melhor em asteroides com rotação estável. Em corpos de rotação caótica, a distribuição variável de aquecimento e resfriamento torna o torque solar menos eficaz, mantendo-os lentos, salvo quando são atingidos por colisões.
Por que isso importa
Os cientistas relacionaram o padrão de giro à estrutura interna dos asteroides. Muitos parecem ser grandes agregados de fragmentos, com cavidades e cobertura de regolito — uma verdadeira “pilha de entulho”. E isso é importante para a defesa planetária: um impacto cinético reagiria de forma bem diferente em um aglomerado poroso do que em um corpo sólido. Classificar a rotação pode, portanto, ajudar a inferir a estrutura interna de asteroides potencialmente perigosos.
E o futuro? Observações maiores, como o Levantamento de Legado do Espaço e do Tempo do Observatório Vera C. Rubin (LSST), poderão aplicar o método a milhões de asteroides, afinando nossa compreensão sobre sua evolução e composição.
Em resumo: com o olhar preciso do Gaia e novos modelos, estamos começando a decifrar melhor o comportamento e a estrutura dos asteroides — informação que pode ser crucial caso algum deles represente risco para a Terra.