O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta quinta-feira (9), da inauguração da nova fábrica da BYD Brasil em Camaçari, na Bahia. O evento marcou o início da produção nacional da montadora no terreno que antes era da Ford e contou com a presença de autoridades como o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o presidente da BYD, Wang Chuanfu, e o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues. O investimento declarado para a obra foi de R$ 5,5 bilhões.
O que foi construído
As obras começaram em março de 2024 em um terreno de 4,6 milhões de metros quadrados — o equivalente a cerca de 645 campos de futebol — adquirido do governo do estado por R$ 287,8 milhões. A primeira fase prevê capacidade anual de 150 mil veículos, com expansão planejada para 300 mil na etapa seguinte.
Como é a fábrica
A BYD descreve a planta como uma das linhas de montagem mais modernas do mundo, com alto nível de automação e controle integrado das etapas. Robôs atuam na instalação de vidros e na fixação de baterias, e um sistema de sequenciamento prioriza modelos com maior demanda. O ambiente foi projetado para operar com níveis de ruído abaixo de 70 decibéis.
Em julho, a empresa apresentou o primeiro BYD Dolphin Mini 100% produzido no Brasil. O complexo em Camaçari também vai fabricar versões nacionais do Song Pro e do King. Desde 2022, a BYD diz ter vendido mais de 172 mil unidades no país e, em setembro, alcançou a sétima posição no ranking geral de vendas, com participação de mercado de 5,56%.
“Essa conquista é boa para a economia, para o comércio, para o emprego, para a renda e para o desenvolvimento tecnológico do nosso estado. Ficamos tristes com a saída da Ford, mas trabalhamos duro — e hoje a Bahia abriga a principal montadora de carros elétricos e híbridos do mundo”, disse Rui Costa.
Emprego e cadeia de fornecedores
O governo e a empresa destacaram o impacto na geração de empregos: cerca de 1.500 pessoas já foram contratadas na planta. A previsão é de que, até o final do ano seguinte, o complexo gere aproximadamente 20 mil postos entre diretos e indiretos. A BYD informou que começou a seleção de fornecedores brasileiros para formar uma cadeia local de suprimentos; por ora, a linha operou inicialmente no sistema SKD (Semi Knocked-Down).
Reações do setor e medidas
A chegada acelerada da BYD ao Brasil provocou reação da indústria e do governo. Em julho, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços antecipou para janeiro de 2027 a cobrança do imposto de importação de 35% sobre veículos elétricos e híbridos, decisão motivada por críticas do setor nacional. Em resposta, a montadora lançou uma campanha para atingir mais de 50% de nacionalização de peças até 2027.
Apurações sobre as obras
A construção da fábrica foi alvo de investigação do Ministério do Trabalho e Emprego após constatações de irregularidades na contratação de trabalhadores chineses. Segundo o órgão, 471 trabalhadores foram trazidos de forma irregular e 163 foram resgatados em condições análogas à de escravidão, com alojamentos precários, falta de colchões e infraestrutura sanitária insuficiente.
A inauguração em Camaçari reforça, na avaliação do governo, o papel do Brasil como polo estratégico da BYD na América Latina. Ao mesmo tempo, permanecem em curso medidas administrativas e investigações sobre as condições de trabalho durante a construção — um tema que ainda precisa de respostas e acompanhamento.
O que muda daqui para frente? A fábrica traz produção local e potencial de empregos, mas também exige fiscalização e integração real com fornecedores nacionais. É um passo grande — e resta acompanhar como ele será traduzido em benefícios concretos para a economia e para a cadeia produtiva brasileira.