Em Salvador, o ex-senador e especialista em planejamento urbano-regional Waldeck Ornélas voltou a criticar o projeto da Ponte Salvador-Itaparica. Em entrevista ao Bahia Notícias, ele disse que a obra, do jeito que está pensada, não atende às necessidades cotidianas da população da região.
Por que a crítica
Para Ornélas, a ponte tem caráter predominantemente rodoviário: favorece o tráfego de veículos, mas não resolve a mobilidade diária de quem vai ao trabalho, estuda ou precisa se deslocar entre cidades da baía. Mas será que uma ponte, por mais imponente que seja, é a melhor resposta para o dia a dia das pessoas?
Ele também questionou o custo do empreendimento — hoje estimado em R$ 11 bilhões — e alertou que o valor final pode subir depois de estudos de fundação que apontaram necessidade de intervenções mais complexas do que o previsto.
Alternativa sugerida: transporte de passageiros na baía
Ornélas defende o aprimoramento e a integração do transporte aquaviário já existente na Baía de Todos-os-Santos com os sistemas terrestres. Atualmente há rotas ligando Salvador a municípios como:
- Madre de Deus
- Maragogipe
- Cachoeira
Segundo ele, investir nessa malha de passageiros pode ser mais eficaz para a mobilidade e para o desenvolvimento econômico local do que priorizar uma travessia voltada ao transporte individual.
Impacto econômico e exemplos locais
O ex-senador citou o complexo portuário e destacou o caso do estaleiro Paraguaçu, em Maragogipe, como uma oportunidade de reativar a economia da região. A expectativa é que o estaleiro gere cerca de sete mil empregos, desde que o transporte seja planejado pensando nos trabalhadores.
Comparações e histórico
Ornélas comparou o projeto com a Ponte Rio-Niterói, construída nos anos 1970, e disse que o contexto hoje é diferente: cobrar pedágio, por exemplo, seria inviável para grande parte dos usuários. Ele afirma que esse modelo de desenvolvimento já está desatualizado.
Ele também lembrou que vem se posicionando contra o projeto desde 2019, por meio de artigos e notas técnicas, especialmente depois da redução do vão central da ponte, o que, segundo Ornélas, prejudica a navegabilidade da baía.
Na avaliação do ex-parlamentar, a prioridade deveria ser implantar um sistema integrado de transporte de passageiros, capaz de impulsionar a economia local e melhorar a mobilidade de forma sustentável — e não apenas construir uma via que privilegie o carro.