Desde que amostras da Apollo 17 foram abertas para análise no programa ANGSA da NASA, pesquisadores encontraram algo inesperado: concentrações atípicas do isótopo enxofre-33 (S33) em rochas lunares, segundo estudo publicado na edição de setembro da revista JGR: Planets.
Uma assinatura diferente
A equipe focou em rochas vulcânicas originadas do manto lunar. Em vez de padrões isotópicos semelhantes aos da Terra — como já ocorreu em estudos com oxigênio — os valores de enxofre observados divergem muito do que conhecemos no nosso planeta. É como achar uma peça que não encaixa no quebra-cabeça.
“Antes dessa descoberta, pensava-se que o manto lunar tinha a mesma composição de isótopos de enxofre que o da Terra. Era isso que esperávamos ver ao analisar essas amostras, mas, em vez disso, vimos valores muito diferentes de tudo o que encontramos em nosso planeta”, disse James Dottin, líder do estudo e professor de ciências da Terra na Universidade de Brown.
Os autores notaram também que o enxofre nas amostras aparentemente não foi apenas expelido junto com o material vulcânico; parece ter sido incorporado por outro processo. Sobre a reação inicial, Dottin comentou:
“Meu primeiro pensamento foi: ‘caramba, isso não pode estar certo’. Então, voltamos para garantir que tínhamos feito tudo corretamente, e fizemos. Estes resultados são surpreendentes”.
Possíveis explicações
Os pesquisadores propuseram duas hipóteses para esse chamado “enxofre exótico”:
- Formação por radiação em uma atmosfera primitiva: o S33 poderia ter se formado quando o enxofre reagiu à radiação ultravioleta numa atmosfera lunar temporária e pouco densa, o que indicaria trocas entre superfície e manto.
- Herança do impacto formador da Lua: o isótopo pode ter vindo do corpo do tamanho de Marte chamado Theia, na colisão que criou a Lua há cerca de 4,5 bilhões de anos, sendo incorporado ao manto durante a formação do satélite.
As rochas estudadas foram coletadas em 1972 pela missão Apollo 17, que trouxe cerca de 110,5 kg de material para a Terra. Depois de décadas lacradas, essas amostras estão revelando novas pistas sobre a história geológica da Lua, incluindo questões sobre a origem do chamado manto leve.
Investigações adicionais sobre a distribuição e a abundância de S33 no manto lunar poderão apontar qual hipótese é mais plausível e, assim, oferecer novas pistas sobre a formação da Lua e os processos do Sistema Solar primitivo. O que mais essas pedras ainda têm a nos contar?