O Ministério Público de Paris abriu uma investigação contra a Apple após uma denúncia sobre a suposta coleta indevida de gravações feitas pela assistente Siri. O caso ganhou atenção depois de reportagem do POLITICO e do depoimento de um ex‑funcionário.
O que motivou a denúncia
A ONG Ligue des droits de l’Homme levou à autoridade informações baseadas no relato de Thomas Le Bonniec. Segundo ele, em 2019 trabalhou na Globe Technical Services, na Irlanda, onde teria ouvido milhares de áudios captados pela Siri — incluindo momentos íntimos e dados confidenciais. As revisões, diz o denunciante, teriam o objetivo de melhorar as respostas da assistente.
“questões urgentes”, disse Le Bonniec.
Como a investigação foi conduzida
A apuração ficou a cargo da agência de crimes cibernéticos identificada como OFAC, que buscou dados sobre o total de gravações desde 2014, o número de pessoas potencialmente afetadas e os locais onde essas informações são armazenadas. Antes disso, o ex‑funcionário já havia levado a denúncia a outras autoridades de proteção de dados, entre elas a Comissão Nacional de Tecnologia da Informação e Liberdades Civis da França e a Commission de Protection of Data (DPC) da Irlanda; a DPC encerrou o caso em 2022 sem abrir investigação.
E o que isso significa para quem usa a Siri? Segundo a ONG, após a investigação judicial, usuários da assistente desde 2019 poderão, se assim desejarem, juntar‑se ao processo para reivindicar seus direitos — tanto em termos de proteção de dados pessoais quanto em relação a possíveis violações de privacidade.
Desdobramentos nos Estados Unidos e posição da Apple
Em caso semelhante nos Estados Unidos, a Apple concordou em encerrar uma ação coletiva em 2024 mediante pagamento de US$ 95 milhões a clientes que adquiriram produtos da marca entre 17 de setembro de 2014 e 31 de dezembro de 2024, enquanto negou ter cometido irregularidades.
Em declaração ao POLITICO, um representante da Apple na França afirmou que a empresa “nunca usou dados da Siri para criar perfis de marketing, nunca os disponibilizou para publicidade e nunca os vendeu a ninguém por qualquer motivo”. A companhia também afirmou que a Siri foi projetada para processar, sempre que possível, os dados diretamente no dispositivo e que gravações de áudio só seriam armazenadas quando o usuário desse um opt‑in explícito, para uso exclusivo na melhoria do serviço.
Resumo do que está confirmado
Até o momento, os pontos confirmados incluem a abertura da investigação judicial conduzida pela OFAC e a possibilidade, apontada pela ONG, de que usuários da Siri desde 2019 possam integrar o processo para pleitear direitos relacionados à proteção de dados e à privacidade.