A exibição do míssil chinês DF-61 numa parada militar em setembro reacendeu um velho debate nos Estados Unidos: como modernizar os mísseis balísticos intercontinentais em terra? O episódio voltou a evidenciar problemas de prazo e custo envolvendo o programa Sentinel, segundo relatório do GAO e comunicados do Departamento de Defesa.
Por que isso virou motivo de discussão agora? Em resumo: o GAO apontou pressões significativas no cronograma e no orçamento do programa. Ao mesmo tempo, think tanks de Washington apresentaram caminhos bem diferentes sobre o que fazer em seguida.
O que o GAO e o Pentágono disseram
O relatório do GAO destacou atrasos e riscos orçamentários na transição do atual Minuteman III para o Sentinel. Uma mudança importante foi a decisão de construir silos novos em vez de reaproveitar a infraestrutura existente. Isso fez com que o custo da construção e modernização das instalações de lançamento subisse cerca de 81% — sobre um programa que havia sido inicialmente estimado em US$ 78 bilhões. A Força Aérea justifica a escolha dizendo que o Sentinel foi pensado para sustentar os ICBMs até a década de 2070, o que tornaria necessária uma nova infraestrutura.
Lançadores móveis x silos: argumentos em confronto
Um grupo importante de analistas, como os da The Heritage Foundation, defende que lançadores móveis seriam uma alternativa mais resiliente e, possivelmente, mais barata. A ideia é simples: movimentar os sistemas em comboios reduziria a previsibilidade e tornaria os alvos mais difíceis de atingir.
- Prós apontados pelos defensores de sistemas móveis: menor dependência de pontos fixos, maior dispersão e potencial redução de custos e tempo de implantação.
- Contras e desafios práticos: especialistas alertam para a necessidade de bases seguras, comunicações confiáveis e controle contínuo sobre os lançadores — além de custos logísticos e de manutenção que podem ser altos.
Vale lembrar também que a componente marítima das forças nucleares já oferece mobilidade por meio de submarinos lançadores de mísseis, um fator que pesa na avaliação estratégica geral.
Decisão do Pentágono e reação pública
Apesar das críticas, o Pentágono seguiu com a proposta de silos para garantir lançamentos terrestres seguros. A decisão mantém a rota escolhida pela Força Aérea, mesmo com as ressalvas do GAO e o debate intenso entre think tanks e órgãos públicos.
Os pontos centrais da disputa são claros: custo, velocidade de implantação e segurança operacional a longo prazo. E são justamente essas incertezas que mantêm o tema em discussão.
Possíveis repercussões internacionais
Observadores também notaram que a controvérsia americana pode ter efeitos fora dos EUA. Mudanças em agendas de defesa e prioridades orçamentárias norte-americanas costumam repercutir em debates de segurança em outros países — inclusive no Brasil e em estados como a Bahia, na medida em que influi nas prioridades regionais e em decisões de investimento.
O debate continua, entre análises técnicas e escolhas políticas. Resta ver se o foco será reduzir riscos com soluções móveis, investir nos silos modernos ou combinar abordagens. Em todo caso, a decisão moldará a postura estratégica norte-americana pelas próximas décadas.