Pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica (UBC), no Canadá, anunciaram o primeiro transplante humano de um rim que foi convertido do tipo sanguíneo A para o tipo universal O. O órgão foi implantado em um receptor com morte cerebral e, nos primeiros dois dias, funcionou sem sinais de rejeição imediata.
Como funcionou a conversão
A equipe usou enzimas especiais para “apagar” os antígenos que definem o tipo sanguíneo — como se removesse etiquetas que dizem ao sistema imune “isso é diferente”. Segundo os pesquisadores, esse passo reduz muito o risco de rejeição ligada à incompatibilidade entre doador e receptor.
No transplante, o rim convertido apresentou função adequada nos dois primeiros dias. No terceiro dia, alguns marcadores imunológicos reapareceram, mas a reação foi bem menos agressiva do que o esperado. Isso sugere uma tolerância parcial do corpo ao órgão tratado.
Próximos passos
O estudo foi publicado na Nature Biomedical Engineering. A aplicação clínica da técnica ficará a cargo da Avivo Biomedical, uma spin-off da UBC, que deve avançar com os testes regulatórios e o desenvolvimento para uso em pacientes.
Por que isso importa
A técnica pode ter impacto grande em quem é do tipo O. Pessoas desse tipo representam mais da metade da fila por transplante renal e, hoje, podem esperar mais de sete anos por um órgão compatível. A limitação a doadores do mesmo tipo sanguíneo pode aumentar a espera em até quatro anos e contribui para milhares de mortes antes do transplante.
Em escala global, converter órgãos incompatíveis ampliaria muito a oferta de rins. Nos Estados Unidos, quase 90 mil pessoas aguardavam um transplante renal e cerca de 11 morriam por dia na fila — números que mostram o potencial da técnica para salvar vidas, se for validada em ensaios clínicos.
Além de órgãos, os pesquisadores dizem que a mesma tecnologia pode ser usada para produzir sangue universal sob demanda, abrindo outras aplicações clínicas enquanto avançam as fases de testes em humanos e a avaliação regulatória.
E se isso se confirmar nos ensaios clínicos? A promessa é transformar listas de espera e reduzir mortes evitáveis. Ainda há passos importantes pela frente, mas o resultado inicial é um sinal promissor.