Para a COP-30, marcada para novembro em Belém (PA), um levantamento encontrou potencial de fornecimento na própria região: foram mapeadas ao menos 80 organizações e cerca de 8 mil famílias de agricultores familiares aptas a participar do evento. O estudo foi realizado pelos institutos Regenera e Fronteiras do Desenvolvimento.
O que isso pode significar na prática? Segundo o levantamento, a compra desses insumos poderia injetar cerca de R$ 3,3 milhões na economia local — valor que equivale a quase 80% do orçamento anual do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) destinado ao município de Belém.
Como foram escolhidos
O processo de seleção levou em conta critérios práticos: registro no Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF), capacidade de emitir notas fiscais e cumprimento de normas sanitárias. Maurício Alcântara, cofundador do Instituto Regenera, explicou que esses requisitos garantem que os fornecedores tenham regularização e condição operacional para atender ao edital da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI).
O recorte nacional
No Brasil, a agricultura familiar tem grande presença: são cerca de 3,9 milhões de propriedades, responsáveis por 67% das ocupações no campo e por 23% do valor bruto da produção agropecuária. A atividade emprega aproximadamente 10,1 milhões de pessoas.
A distribuição regional da força de trabalho da agricultura familiar é assim:
- Nordeste: 46,6%
- Sudeste: 16,5%
- Sul: 16%
- Norte: 15,4%
- Centro-Oeste: 5,5%
Um exemplo da região metropolitana
Entre os grupos mapeados está o Grupo para Consumo Agroecológico (Gruca), formado por 25 famílias na região metropolitana de Belém. Um dos produtores, o agricultor urbano Noel Gonzaga, cultiva macaxeira, abóbora, feijão, milho, açaí e o ariá — conhecido como a “batata amazônica” e apontado no mapeamento como alimento em risco de desaparecer do consumo regional. Gonzaga comercializa sua produção pelo Gruca e para o ponto de cultura alimentar Iacitata, que foi selecionado como restaurante oficial do evento.
“Em novembro já vai estar mais para o fim da safra, mas vai ter muito açaí, com certeza”, disse Noel Gonzaga.
O açaí chegou a ser vetado inicialmente no edital por risco de contaminação, mas foi liberado após revisão do processo. De acordo com o levantamento, a colheita deve coincidir com o período da conferência.
O mapeamento foi apresentado como subsídio às compras previstas pelo edital da OEI para a organização da alimentação da COP-30 em Belém, buscando integrar produtores familiares e comunidades tradicionais ao fornecimento do evento. Em outras palavras: é uma chance de trazer os sabores locais para o cardápio oficial e, ao mesmo tempo, colocar recurso direto nas mãos de quem produz.