Um estudo publicado na quarta-feira (1) na revista Nature Astronomy concluiu que as moléculas orgânicas complexas detectadas nas plumas de Encélado, lua de Saturno, têm origem direta no oceano subterrâneo da lua, com base numa nova análise de dados coletados pela sonda Cassini em 2008.
Na passagem de 2008, o Analisador de Poeira Cósmica da Cassini foi atingido por grãos de gelo a cerca de 18 km/s — os mais rápidos registrados pela missão — e os sinais resultantes foram reconstruídos pelos pesquisadores. A reanálise revelou uma grande variedade de moléculas contendo carbono, nitrogênio e oxigênio, compatíveis com reações químicas complexas em ambiente aquoso, o que aponta uma ligação direta entre as plumas e o oceano sob a crosta gelada.
Antes deste trabalho havia dúvida: essas moléculas eram produzidas no anel E de Saturno pela ação da radiação solar ou vinham do interior de Encélado? A nova conclusão favorece a segunda hipótese — as plumas estariam trazendo material diretamente do reservatório líquido.
“Mas esta é a primeira vez que elas são realmente vistas nas profundezas das plumas. Esta é a primeira vez que são realmente ligadas ao oceano de Encélado. Isso significa que agora temos provas concretas de que existem moléculas complexas prebióticas no oceano de Encélado!”, disse Jörn Helbert, chefe do Departamento de Sistema Solar no Gabinete de Envolvimento Científico da ESA.
E por que isso importa? Porque combina três ingredientes que costumam aparecer nas listas de locais potencialmente habitáveis: água líquida, fontes de energia e química ativa. A composição observada incluiu precursores associados a processos prebióticos, o que torna Encélado um alvo prioritário na busca por ambientes que possam, em princípio, abrigar formas de vida.
Próximos passos da exploração
A ESA já planejou uma missão com duas espaçonaves — um orbitador e um módulo de pouso — para estudar a lua e descer na região das chamadas Listras de Tigre, no polo sul, onde as plumas funcionam como verdadeiros “elevadores” naturais, conduzindo material do oceano ao espaço. O cronograma sugerido considera fatores como iluminação solar e menor incidência de eclipses:
- Componentes da missão: orbitador + módulo de pouso.
- Alvo do pouso: regiões das Listras de Tigre, no polo sul.
- Janela prevista: lançamento cogitado para o início da década de 2040 e chegada estimada para meados da década de 2050, com o cronograma ainda em definição.
Além do interesse astrobiológico, os resultados já têm repercussão prática: aprimoramento de sensores, novas técnicas de detecção e métodos de análise de compostos orgânicos que podem ser aplicados em monitoramento de água, controle de contaminação e diagnóstico ambiental — desdobramentos úteis para centros de pesquisa e para o ensino de ciências no Brasil, inclusive na Bahia.
Como desdobramento natural, a comunidade científica agora aguarda futuras missões e estudos que possam coletar amostras diretamente das plumas de Encélado, para aprofundar o conhecimento sobre a química do oceano e avaliar de forma mais direta o potencial habitável da lua.