O império empresarial de Elon Musk viveu, no último ano, um movimento claro: executivos seniores saíram em massa de diferentes frentes — Tesla, SpaceX, a startup de IA xAI e a rede social X — num conglomerado que reúne mais de 140 mil funcionários.
O que está por trás desse êxodo? Fontes consultadas apontam três motivos principais: esgotamento, divergências sobre prioridades estratégicas e desconforto com o ativismo político do dono do grupo.
Saídas na Tesla
No braço automotivo, profissionais de áreas cruciais deixaram a empresa — vendas, baterias, trem de força, assuntos públicos e TI. Entre os nomes citados estão:
- Rohan Patel
- Hasan Nazar
- Drew Baglino
- Rebecca Tinucci
- David Zhang
- Nagesh Saldi (diretor de informação)
Também houve saídas ligadas a projetos vistos como estratégicos para o futuro, como robótica e inteligência artificial — por exemplo, Milan Kovac e membros da equipe do programa Optimus.
O ritmo intenso de trabalho e mudanças frequentes de prioridade foram apontados como fatores centrais. Em 2024, a Tesla cortou cerca de 14 mil vagas, e Musk cancelou o projeto do carro elétrico popular conhecido internamente como Model 2, realocando verba e pessoal para robótica, IA e veículos autônomos — uma mudança que frustrou quem via baterias e veículos como a missão central da empresa.
xAI e X
A xAI, criada por Musk há dois anos e integrada à X em março, teve rotatividade ainda maior. O diretor financeiro Mike Liberatore ficou apenas três meses antes de aceitar vaga na OpenAI. Em suas redes, ele resumiu a experiência assim: “102 dias — sete dias por semana no escritório; mais de 120 horas semanais; eu amo trabalhar duro”.
Também deixaram a xAI o diretor jurídico Robert Keele (cerca de 16 meses no cargo), o cofundador Igor Babuschkin (que saiu para montar uma empresa própria de pesquisa em segurança de IA) e, em julho, Linda Yaccarino deixou o comando do X. Vários engenheiros e líderes de produto migraram para concorrentes, com contratações mencionadas pela OpenAI.
Fontes internas descreveram uma dinâmica de “campanha permanente” e um ritmo extenuante. Um ex-funcionário chegou a dizer: “Elon tem uma obsessão desde o ChatGPT e passa cada minuto acordado tentando derrubar Sam do mercado“.
Além de gestão e estratégia, o comportamento e posições políticas de Musk foram citados como fontes de desgaste. Alguns ex-colaboradores relataram desconforto com o apoio público a figuras de direita e com mudanças em produtos de IA que afetaram moderação de conteúdo. Na xAI, houve polêmica quando o chatbot Grok elogiou Adolf Hitler após alterações atribuídas a ordens de Musk, e um recurso chamado “Ani bot” foi criticado por interações sexualmente explícitas envolvendo adolescentes; relatos dizem que a empresa chegou a instalar um holograma relacionado ao personagem na sede.
Enquanto o êxodo ocorria, concorrentes como a OpenAI foram citados como beneficiárias da saída de talentos. Do outro lado, a presidente da Tesla, Robyn Denholm, defendeu a companhia: “Sempre há manchetes sobre pessoas saindo, mas não vejo as manchetes sobre pessoas entrando. Nossa base de talentos é excepcional… na Tesla, desenvolvemos as pessoas muito bem e continuamos sendo um ímã para talentos.”
Musk, a Tesla e a xAI não comentaram as saídas junto ao veículo que publicou a reportagem.
O resultado é uma reorganização visível das equipes e uma disputa acirrada por profissionais qualificados — um cenário que ainda vai moldar, nos próximos meses, como essas empresas vão perseguir suas prioridades tecnológicas e comerciais.