Numa entrevista ao Squawk Box da CNBC, na sexta-feira (26), Nick Clegg — ex-chefe de assuntos globais da Meta e ex-vice-primeiro-ministro do Reino Unido (2010–2015) — trouxe um recado claro: as empresas de tecnologia devem manter distância da política. Ele disse que a interferência das companhias no espaço público deveria causar desconforto justamente por trazer riscos à segurança dos dados e ao modelo de internet com fluxos abertos.
Como sintetizou Clegg: “Geralmente, não acho que política e inovação tecnológica combinem muito bem”. A ideia é simples: quando empresas e governos se misturam demais, quem perde são os princípios que mantêm a internet interoperável e segura.
O caso TikTok
No comentário sobre o acordo anunciado entre o governo do presidente Donald Trump e a China para manter o TikTok funcionando nos Estados Unidos, Clegg destacou dois pontos centrais:
- proteção dos dados de cidadãos norte‑americanos; e
- quem detém o algoritmo do serviço.
Ele afirmou que seria “bastante difícil” compartilhar o algoritmo do aplicativo e questionou se, numa mudança de propriedade ou nos novos controles, os dados dos EUA estariam realmente protegidos contra vigilância estrangeira. Quem vai realmente cuidar desses dados quando a propriedade ou as regras mudam?
Clegg também criticou medidas de isolamento de dados, como a lei indiana que exige que informações de cidadãos fiquem dentro do território do país. A metáfora que usou ajuda a entender o risco: “Se todos disserem: ‘Queremos nossa fatia do bolo de dados’, os fluxos abertos que impulsionam a internet começarão a se deteriorar”.
Para ele, a relação entre Estados Unidos e China representa o maior perigo para a internet global, porque outras nações podem copiar essa lógica de segmentação. Clegg citou a imagem do primeiro‑ministro indiano ao lado do presidente chinês como um sinal de mudanças geopolíticas que podem levar a mais medidas de isolamento. Segundo ele, se a Índia seguir o caminho da China e isolar seus dados, isso seria “terrível para os princípios globais abertos nos quais a internet se baseava”.
Essas observações entram no debate sobre governança de dados, regulação tecnológica e liberdades digitais — temas relevantes para leitores baianos e para o público nacional, diante das decisões que afetam os fluxos internacionais de informação.
Vale lembrar: as declarações foram feitas durante a entrevista na CNBC; não houve, no programa, anúncio de novas medidas governamentais ou investigações decorrentes dessas falas.