A hipotermia acontece quando a temperatura interna do corpo cai abaixo de 35 °C. Em Salvador, na Bahia, especialistas chamaram atenção para o risco aumentado entre pessoas em situação de rua, que ficam expostas por longos períodos e muitas vezes não têm abrigo adequado.
Como o corpo perde calor
Perder calor é mais fácil do que parece: basta encostar numa superfície fria, ficar sob vento cortante, estar com roupas molhadas ou respirar em ar muito frio. Esses mecanismos — condução, convecção, radiação e evaporação — fazem com que o organismo perca calor mais rápido do que consegue produzir. Quando isso acontece, o hipotálamo, que regula a temperatura, deixa de manter o equilíbrio necessário ao funcionamento dos órgãos.
As primeiras reações
No início, o corpo tenta se proteger. Vasoconstrição deixa mãos e pés pálidos e frios, e os tremores musculares (calafrios) surgem para gerar calor extra. Nessa fase, com a temperatura central entre 35 °C e 33 °C, a pessoa costuma apresentar fala arrastada, coordenação prejudicada e cansaço — sinais que, se identificados a tempo, permitem a reversão com aquecimento adequado.
Quando a situação se complica
Se a temperatura cair para entre 32 °C e 30 °C, o cérebro já começa a sofrer: há confusão, desorientação e perda do discernimento, o que muitas vezes impede a busca por ajuda ou abrigo. Em alguns casos ocorre o chamado ‘despimento paradoxal’, quando a vítima, em delírio, retira as roupas e perde calor ainda mais rápido. Respiração e batimentos cardíacos desaceleram, e a pele pode ficar azulada por falta de oxigenação.
Abaixo de 28 °C fala-se de hipotermia grave: arritmias cardíacas potencialmente fatais, queda da pressão arterial, comprometimento dos rins e do fígado, e depressão do sistema nervoso central que leva à inconsciência profunda. A morte por frio costuma ser um processo gradual, em que a perda dos tremores e a imobilidade antecedem a parada cardiorrespiratória.
Risco extra — o afterdrop
Um efeito perigoso é o chamado afterdrop: ao aquecer muito rápido as extremidades, o sangue frio das mãos e dos pés pode retornar ao núcleo do corpo e baixar ainda mais a temperatura central. Por isso, os protocolos recomendam priorizar o aquecimento do tronco e dos órgãos vitais antes de restaurar totalmente a circulação periférica.
Onde a hipotermia aparece
Não é preciso estar em regiões polares para sofrer hipotermia. Ela também ocorre em imersões em água fria (a água tira calor muito mais rápido que o ar), em grandes altitudes, em salas cirúrgicas frias e, sobretudo, entre populações vulneráveis. Idosos, crianças e pessoas em situação de rua têm menor capacidade de regular a temperatura, e a falta de abrigo ou de roupas secas em áreas urbanas aumenta o risco de casos fatais.
Prevenção prática
Pequenas ações podem fazer grande diferença. Entre as medidas recomendadas estão:
- Usar camadas de roupa isolante e proteger contra vento e umidade;
- Manter o corpo seco e, quando possível, movimentar-se para gerar calor;
- Manter alimentação e hidratação adequadas;
- Priorizar o aquecimento do tronco quando for socorrer alguém;
- Em nível coletivo, abrir abrigos emergenciais, distribuir agasalhos e programas de acolhimento — intervenções que já foram citadas como responsáveis por salvar vidas.
Um uso médico do frio
Curiosamente, o frio também tem uso controlado na medicina: a hipotermia induzida é aplicada em ambiente controlado para reduzir o metabolismo e proteger o cérebro após paradas cardíacas. Ainda assim, o frio incontrolado permanece uma ameaça séria e, na prática, muitas vezes evitável.
Em suma: a hipotermia é bem definida e compreendida — queda da temperatura corporal abaixo de 35 °C —, mas suas consequências variam desde sinais iniciais reversíveis até risco de morte. Identificar os sinais, agir com aquecimento adequado e proteger as pessoas mais vulneráveis são medidas essenciais para evitar tragédias.