Um novo relatório do Laboratório de Ciências de Fronteiras Planetárias do Instituto de Pesquisa de Impacto Climático de Potsdam (PIK) mostra que, pela primeira vez, a acidificação dos oceanos ultrapassou um limite planetário. Com isso, já são sete dos nove limites do sistema Terra violados — e apenas a camada de ozônio e a carga de aerossóis permanecem dentro da zona de segurança.
O que os cientistas encontraram
O PIK avaliou nove limites e identificou transgressões em sete deles:
- Mudanças Climáticas
- Integridade da Biosfera
- Mudanças no Sistema Terrestre
- Uso de Água Doce
- Fluxos Biogeoquímicos
- Novas Entidades
- Acidificação dos Oceanos
A principal causa apontada para a acidificação marinha é a queima de combustíveis fósseis, agravada pelo desmatamento e por mudanças no uso da terra. Esses fatores mudam a química do mar e aumentam a pressão sobre ecossistemas já fragilizados.
O que isso significa na prática? Espécies e lugares que muitas comunidades conhecem da pesca e do turismo estão em risco: corais de águas frias, recifes tropicais e a vida no Ártico foram destacados como especialmente vulneráveis. Pequenos moluscos chamados pterópodes já mostram sinais de corrosão nas conchas, algo que pode repercutir ao longo de cadeias alimentares inteiras. Desde o início da era industrial, a acidez do oceano aumentou entre 30% e 40%, segundo o relatório.
“O oceano está se tornando mais ácido, os níveis de oxigênio estão caindo e as ondas de calor marinhas estão aumentando. Isso está aumentando a pressão sobre um sistema vital para estabilizar as condições no planeta Terra. Essa acidificação afeta tudo, desde a pesca costeira até o oceano aberto”, disse Levke Caesar, um dos principais autores do relatório.
Os autores também ressaltam impactos humanos: pesca costeira e turismo em áreas litorâneas podem sofrer perdas, com efeitos na economia local de cidades como Salvador, na Bahia, e de outras comunidades que dependem do mar.
“Por bilhões de anos, o oceano tem sido o grande estabilizador da Terra: gerando oxigênio, moldando o clima e sustentando a diversidade da vida. Hoje, a acidificação é uma luz vermelha de alerta no painel de instrumentos da estabilidade da Terra. Ignore-a e corremos o risco de colapsar os próprios alicerces do nosso mundo vivo. Proteja o oceano e nós nos protegeremos”, alertou a oceanógrafa Dra. Sylvia Earle.
O relatório lembra que já existem exemplos de recuperação quando políticas eficazes são aplicadas — citando o Protocolo de Montreal e regras da Organização Marítima Internacional como casos que mostraram resultados positivos. A presidente dos Guardiões Planetários, Hindou Oumarou Ibrahim, destacou a importância de integrar conhecimento científico e saberes tradicionais para orientar essa recuperação.
“Os povos indígenas protegeram as florestas, a água e a biodiversidade vivendo dentro dos limites da natureza… Para curar nosso planeta, precisamos unir a ciência e o conhecimento tradicional”, disse Hindou Oumarou Ibrahim.
Como conclusão, o PIK afirma que a situação é grave, mas que ainda há uma janela para reverter as tendências. Medidas coordenadas — reduzir emissões de combustíveis fósseis, frear o desmatamento e descarbonizar setores como o marítimo — são essenciais para restaurar os limites planetários. Em outras palavras: agir agora pode evitar que problemas locais virem crises sistêmicas.
Proteger o oceano não é só proteger paisagens bonitas; é proteger a base da vida e da economia de milhões de pessoas. Se cuidarmos do mar, estaremos cuidando de nós mesmos.