Uma investigação recente da associação australiana CHOICE testou 20 protetores solares vendidos no país e encontrou discrepâncias importantes entre o FPS indicado nas embalagens e o resultado dos ensaios: em 16 produtos o fator real não coincidiu com o que estava rotulado.
O que os testes mostraram
Os testes foram feitos em voluntários expostos a um simulador de sol, e o grau de vermelhidão serviu para calcular o FPS real de cada produto. Apenas quatro itens tiveram proteção igual ou superior ao anunciado; a maioria ficou com valores próximos de 20.
O caso mais alarmante foi o do Protetor Solar Lean Screen Mineral Matificante de Zinco, da Ultra Violette, que trazia FPS 50+ na embalagem e marcou FPS 4 nos testes da CHOICE. Outros exemplos relevantes: a Neutrogena Sheer Zinc dizia 50 e obteve 24; o Cancer Council Ultra (divulgado como 50+) registrou 24; e a La Roche-Posay Anthelios Pele Molhada divulgava 50, mas marcou 72.
A lista completa dos 20 produtos avaliados e seus resultados no relatório da CHOICE foi:
- Ultra Violette — divulgado: 50+; real: 4
- Neutrogena Sheer Zinc — divulgado: 50; real: 24
- Cancer Council Ultra — divulgado: 50+; real: 24
- Aldi Ombra Loção Diário — divulgado: 50+; real: 26
- Bondi Sands Loção Corporal Mineral de Zinco — divulgado: 50+; real: 26
- Woolworths Protetor Solar Diário — divulgado: 50+; real: 27
- Cancer Council Everyday Value — divulgado: 50; real: 27
- Banana Boat Baby Zinc — divulgado: 50+; real: 28
- Bondi Sands sem fragrância — divulgado: 50+; real: 32
- Cancer Council Clear Zinc Kids — divulgado: 50+; real: 33
- Banana Boat Loção Protetora — divulgado: 50+; real: 35
- Invisible Zinc Mineral Facial e Corporal — divulgado: 50+; real: 38
- Sun Bum Premium Loção — divulgado: 50+; real: 40
- Nivea Sun Protege e Hidrata Lock — divulgado: 50+; real: 40
- Nivea Sun Kids Ultra Protect and Play — divulgado: 50+; real: 41
- Coles Protetor Solar Ultra — divulgado: 50+; real: 43
- Mecca To Save Body — divulgado: 50+; real: 51
- Cancer Council Protetor Infantil — divulgado: 50+; real: 52
- Neutrogena Ultra Sheer — divulgado: 50; real: 56
- La Roche-Posay Anthelios Pele Molhada — divulgado: 50; real: 72
Reações e investigações
A CHOICE repetiu parte dos ensaios em um laboratório na Alemanha e teve resultados semelhantes, o que motivou pedidos de investigação regulatória. A autoridade australiana responsável por medicamentos, a TGA, informou que apuraria as conclusões e que tomaria “medidas regulatórias conforme necessário”, além de revisar os requisitos de testes de FPS.
As empresas reagiram de formas diferentes: algumas contestaram a pesquisa e defenderam os rótulos; outras, como Aldi, Nivea, Woolworths e Neutrogena, divulgaram testes próprios para confrontar os resultados. A Ultra Violette negou inicialmente o risco, mas depois retirou o produto testado, admitiu erro após retestes, encerrou a parceria com o laboratório contratado e ofereceu reembolso e voucher aos clientes.
Uma apuração da ABC News mostrou que oito dos 16 produtos que não passaram nos testes da CHOICE haviam sido certificados por um único laboratório dos EUA, o Princeton Consumer Research (PCR), cujos dados a reportagem considerou inconsistentes. Isso levantou dúvidas sobre a uniformidade dos métodos de análise e sobre como diferentes laboratórios chegam a resultados tão distintos.
Como isso acontece?
Medir o FPS é sensível a várias condições: tipo de pele do voluntário, espessura da camada aplicada, contato com água e suor, e até o método laboratorial. Esses fatores ajudam a explicar por que testes diferentes podem apontar números divergentes — mas não afastam a necessidade de transparência e de normas confiáveis.
Especialistas consultados reforçaram que, apesar das variações, estudos clínicos anteriores mostram que o uso regular de protetor solar adequado reduz a incidência de câncer de pele. Como disse a CHOICE:
“Por favor, continue usando protetor solar. Protetor solar salva-vidas.”
Implicações para consumidores e autoridades
No plano internacional o episódio reacendeu debates sobre fiscalização e rotulagem. Na Austrália, os protetores solares são classificados como medicamentos e, por isso, estão sujeitos a regras mais rígidas. No Brasil, a Anvisa lembrou que regula o setor e pode aplicar medidas como apreensão, recolhimento e suspensão de comercialização quando houver irregularidades.
Especialistas jurídicos orientaram consumidores lesados a buscar reparação com base no Código de Defesa do Consumidor, pedindo restituição, substituição ou indenização quando houver vício de qualidade — e salientaram que laudos técnicos e comprovação médica são essenciais em ações relacionadas a danos à saúde.
Como desdobramentos confirmados, a TGA anunciou investigação das conclusões e avaliação dos requisitos de testes; a CHOICE pediu que marcas com dúvidas considerem retirar produtos do mercado; e algumas empresas submeteram itens a novos ensaios. O caso segue sob apuração por autoridades sanitárias e reforça pedidos por maior fiscalização sobre metodologia e certificação do FPS.
Em resumo: os testes da CHOICE apontaram discrepâncias relevantes em protetores solares vendidos na Austrália, o que levou a investigações, respostas diferentes das empresas e um debate mais amplo sobre confiança nos rótulos. Para quem usa protetor diariamente, a mensagem prática permanece — proteger-se do sol é importante — enquanto autoridades e fabricantes apuram e ajustam procedimentos.