Uma pessoa ia entrar numa rua por onde passava todos os dias quando, de repente, uma voz interior pediu para mudar o caminho. O aviso foi deixado de lado e, poucos instantes depois, ela deu de cara com um assaltante.
Quem nunca teve uma sensação assim, sem conseguir explicar direito de onde veio?
O que a pesquisa diz
Especialistas descrevem a intuição como um processamento subconsciente muito rápido, capaz de prever situações a partir de experiências e conhecimentos anteriores. Essas impressões surgem como insights, sensações ou sentimentos repentinos que funcionam como sinais de alerta.
Na visão da neurociência, o pensamento intuitivo é automático, veloz e inconsciente, concentrado no córtex, enquanto o pensamento analítico aparece como consciente, lógico e mais lento, acionando o sistema límbico e o tronco encefálico. Um estudo publicado no Journal of Behavioral Decision Making tratou esses dois modos como opostos complementares que trabalham em conjunto na tomada de decisões do dia a dia.
Pesquisas também mostram que dar preferência exclusiva ao raciocínio, desprezando emoções e intuição, pode ser prejudicial. Um trabalho da University of Virginia indicou que, em impasses, pensar demais pode atrapalhar a decisão — sobretudo quando é necessário agir rápido.
Em um experimento da Universidade de São Paulo, o pesquisador Marlon Alves aplicou um jogo virtual a 160 gerentes; desafios iniciais exigiam pensamento analítico, e mudanças bruscas de regras forçaram escolhas entre intuição e reflexão. A orientadora Simone Galina observou que, após as alterações, as equipes que optaram pela intuição se saíram melhor em flexibilidade, velocidade, rotinização e coordenação.
Isso não quer dizer que a intuição acerta sempre. Há limites: instintos herdados — como a tendência a preferir comidas muito gordurosas — nem sempre se adaptam ao contexto atual, e mostram falhas do processamento intuitivo.
Como exercitar a intuição
Pesquisadores sugerem que a intuição pode ser treinada com práticas simples. Entre as técnicas apontadas estão:
- Meditação e momentos de silêncio para reduzir o ruído mental.
- Registro de sonhos, como discutido pelo neurocientista Sidarta Ribeiro em O Oráculo da Noite.
- Escrever um diário para mapear sensações e padrões.
- Prestar atenção a emoções e sensações corporais.
- Expor-se a novidades e desafios para ampliar a base de experiências.
O objetivo não é substituir a análise, mas somar a ela. O pensamento analítico continua essencial, porém reservar espaço para a intuição — e cultivá-la — ajuda a tomar decisões melhores em situações de mudança súbita. No fim, o ideal é integrar intuição e razão, usando cada uma quando for mais apropriado.