Em Salvador, na Bahia, a decisão sobre a venda de 15% dos direitos de transmissão do Esporte Clube Vitória para investidores da Liga Forte União (LFU) — por cerca de R$ 68 milhões e com adesão prevista a partir de 2025 — segue gerando questionamentos e tensão entre conselheiros.
O que está em jogo
A deliberação ocorreu em reunião do Conselho Deliberativo em 11 de setembro. A Frente Vitória Popular (FVP), grupo de conselheiros que contestou o processo, afirma que a votação não atingiu o quórum de dois terços exigido por seu entendimento. O placar divulgado foi de 54 votos favoráveis, 36 contrários e 2 abstenções.
As alegações da Frente Vitória Popular
A FVP também questiona a ata do Conselho Fiscal de 3 de setembro, que, segundo o grupo, teria aprovado a cessão dos direitos comerciais por 50 anos. O movimento exigiu a publicação imediata das atas e afirmou que, se a transação for formalizada, pretende levar o caso ao Judiciário por entender que a operação viola o estatuto do clube.
“Solicitamos a publicação imediata da ata. Este é um direito estatutário. Além disso, a reunião do Conselho Deliberativo precisa registrar que a adesão à LFU também não foi aprovada”, diz o pronunciamento da FVP.
Dúvidas sobre recursos
Os conselheiros também levantaram suspeitas sobre um montante de R$ 25 milhões que, segundo a Frente, já teria sido recebido como parte do negócio. Perguntam: onde está esse dinheiro e como foi utilizado? Para o grupo, trata‑se de decisão que afeta o futuro do clube por cinco décadas, e a transparência sobre esses valores é crucial.
Resposta da direção
O diretor do Conselho Deliberativo, Ralph Fernandes, informou que a ata da sessão de 11 de setembro será publicada no site oficial do clube assim que estiver finalizada, já que existem vários documentos a serem anexados ao processo.
“Não estou respondendo nenhum grupo, mas as atas são publicadas no site do clube e assim que essa estiver pronta ela será publicada. Não é só uma ata, são vários documentos a serem anexadas. Tem uma sequência de fatos. Existe uma tramitação e ela está sendo cumprida. No momento certo a ata será publicada”, disse Ralph Fernandes.
O presidente do clube e do Conselho Gestor, Fábio Mota, disse ao Bahia Notícias que a divulgação das atas é competência do Conselho Deliberativo, por se tratar de poderes independentes. Segundo ele, o estatuto do Vitória exigiria apenas maioria simples para a votação sobre direitos de transmissão — não o quórum de dois terços, como a FVP alega. A diretoria também divulgou nota afirmando que o Departamento Jurídico deu parecer favorável, concluindo que a negociação “guarda perfeita consonância com o Estatuto” e “não se caracteriza, em hipótese alguma, como empréstimo”.
Impacto financeiro previsto
Em entrevista coletiva no dia 10, Fábio Mota afirmou que a entrada do Vitória na LFU poderia elevar a receita do clube para cerca de R$ 166 milhões anuais a partir de 2029 — um aumento de cerca de 35% em relação ao previsto no contrato com a liga atual, a Libra. Parte desses recursos, segundo ele, serviria para reduzir o passivo do clube, que soma R$ 203,4 milhões.
Próximos passos
Como desdobramento, a Frente Vitória Popular encaminhou requerimentos formais solicitando as atas e informações detalhadas sobre a operação, e anunciou a intenção de recorrer ao Judiciário caso a aprovação seja confirmada oficialmente. Do outro lado, a direção do Conselho Deliberativo afirmou que publicará as atas quando a tramitação documental estiver concluída. O conflito agora tende a se resolver entre a exigência por transparência e os prazos formais de publicação dos documentos.