O Ministério Público do Paraná (MP-PR) deflagrou, na sexta-feira (12), a Operação Derby, voltada ao combate a um esquema criminoso de manipulação de resultados em partidas de futebol. A ação foi realizada pelo Núcleo de Londrina do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e cumpriu seis mandados de busca e apreensão nos estados da Bahia e de Santa Catarina.
Entre os alvos da operação estão os empresários Igor Gutierrez Freitas, filho do ex-boxeador tetracampeão mundial Acelino “Popó” Freitas, e Rodrigo Rossi Calamo. Segundo a investigação, a dupla teria tentado manipular o resultado de um jogo da Série C do Campeonato Brasileiro envolvendo o Londrina Esporte Clube, em abril deste ano.
A abordagem aos jogadores
De acordo com a apuração do MP-PR, os investigados teriam oferecido R$ 15 mil a três atletas do Londrina para forçar a aplicação de cartões amarelos durante a partida contra o Maringá, disputada em 26 de abril, pela 3ª rodada da Série C. A proposta era que as advertências ocorressem até os 27 minutos do primeiro tempo.
Inicialmente, Igor Gutierrez teria feito contato com um dos jogadores por meio do Instagram, apresentando-se como empresário com acesso a grandes marcas e parcerias comerciais. Em seguida, Rodrigo Rossi deu continuidade à abordagem pelo WhatsApp, quando detalhou a proposta de pagamento em um áudio de visualização única, que acabou recuperado pelos investigadores.
Apesar da oferta, os atletas recusaram a tentativa de aliciamento e comunicaram o episódio à diretoria do clube. O caso foi imediatamente levado pelo Londrina à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que acionou a Polícia Federal.
O “Clássico do Café”
A partida em questão ficou marcada pelo grande número de advertências. Foram dez cartões amarelos distribuídos, quatro deles ao Londrina. Três das advertências foram aplicadas ainda no primeiro tempo, dentro do intervalo mencionado pelos suspeitos. No entanto, nenhuma delas atingiu os jogadores que receberam a oferta.
O que disseram as autoridades
O promotor de Justiça Jorge Fernando Barreto da Costa, integrante do Gaeco, confirmou que os atletas recusaram a proposta e ressaltou a importância da denúncia:
“Lembrando que os jogadores recusaram a proposta. As investigações caminham no sentido de confirmar essa abordagem e a possíveis outras”, afirmou.
A investigação se baseia na Lei Geral do Esporte, que prevê penas de dois a seis anos de prisão, além de multas, para quem oferece ou aceita vantagens patrimoniais destinadas a alterar o resultado de competições. Os crimes investigados incluem aliciamento, fraude esportiva e associação criminosa.
Reação do Londrina Esporte Clube
Em entrevista coletiva, o executivo de futebol do Londrina, Lucas Magalhães, explicou a postura adotada pelo clube:
“Isso assusta na hora. Eu de pronto chamei Paulo (Assis), que era o CEO à época, e a gente acionou a Federação Paranaense na mesma hora. Eles nos passaram um departamento da CBF para oferecer a denúncia. Formalizamos isso já na segunda-feira, logo após o jogo”.
Em nota oficial, o Londrina repudiou a tentativa de manipulação e elogiou a postura de seus jogadores:
“Expressamos nosso profundo respeito e admiração pelos atletas que, além de recusarem a proposta ilícita, tiveram a coragem de procurar a diretoria para denunciar a atitude maliciosa”.
Próximos passos
Os materiais apreendidos durante a Operação Derby passarão por perícia, e os envolvidos seguem na condição de investigados. O processo deve apontar se houve outras tentativas semelhantes em diferentes partidas do futebol nacional. Até o momento, nenhum dos suspeitos foi formalmente indiciado.