O Fluminense apresentou ao Conselho Deliberativo uma proposta para se transformar em Sociedade Anônima do Futebol (SAF). A ideia é dividir o clube com investidores e colocar um grande volume de recursos no projeto ao longo da próxima década.
O que a proposta prevê
De forma resumida, o documento traz alguns pontos centrais:
- 40 investidores integrando a empresa que controlaria a SAF;
- R$ 500 milhões de aporte nos primeiros dois anos;
- Assunção da dívida do clube pela nova estrutura;
- Fluxo total estimado de R$ 6,4 bilhões em um horizonte de 10 anos.
O texto entregue ao conselho detalha que os investidores se comprometeriam com os R$ 500 milhões iniciais e com a incorporação do passivo do clube na SAF, além de apresentar o cenário financeiro para os dez anos seguintes.
A avaliação de Guilherme Bellintani
Em entrevista ao canal BAR FC, no YouTube, o ex-presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, questionou como parte desse montante vem sendo classificada. Segundo ele, muito do que aparece como “investimento” pode na verdade ser custeio — despesas de rotina do clube.
“Eu discordo veementemente, não se trata de 6 bilhões e 400 milhões de investimento. Tecnicamente não é investimento, grande parte aí é custeio, não é investimento, salário de jogador não é investimento, cortar a grama não é investimento, enfim, nada disso é investimento, isso é custeio, isso é o orçamento do clube. Quando se fala investimento, pode até ser investimento próprio, mas assim, vou comprar um CT novo, vou comprar jogador que é ativo, até aí é investimento, e a dúvida é se além de entender o quanto é de investimento desses R$ 6,4 bilhões, quanto vem do capital externo, porque a grande questão é, quanto é que o sócio está botando para ser dono de 65% do clube A, B ou C ou do Fluminense? Essa é a conta”, disse Guilherme Bellintani.
Na visão dele, é importante separar claramente o que é investimento de infraestrutura ou aquisição de ativos — como um centro de treinamento ou contratações tratadas como ativo — do que é simplesmente manutenção do dia a dia do clube.
Referência à experiência no Bahia
Bellintani lembrou ainda a experiência do Bahia para ilustrar a diferença. Segundo ele, no caso do clube baiano havia previsão de aportes obrigatórios voltados à infraestrutura:
- cerca de R$ 800 milhões previstos como aporte obrigatório;
- outros R$ 200 milhões indicativos, por exemplo, para o centro de treinamento;
- execução estimada desses investimentos em quatro a cinco anos, embora o plano original tivesse horizonte de 15 anos.
“Chamar de investimento 6,4 bilhões me parece, sob revista contábil e de lógica, de pensamento econômico, uma nomenclatura equivocada, porque está aí dentro todo o custeio do clube ao longo dos 10 anos. Significa orçamento de 640 milhões por ano, vezes 10 anos, 6 bilhões e 400. Desses, mais 500 de investidor externo, de dinheiro externo. Na verdade, o investidor está se comprometendo a aportar 500 milhões, assumir a dívida para dentro da SAF, pagar essa dívida aparentemente com o próprio orçamento do clube, e pagar as outras coisas. Não estou dizendo que é ruim, estou dizendo só que é a tradução”, disse Bellintani.
Próximos passos
Agora a proposta segue para análise do Conselho Deliberativo, que terá de avaliar os termos da operação e decidir se aprova a constituição da SAF e as condições financeiras propostas. Resta saber quanto desse montante será, de fato, investimento em ativos e quanto corresponderá a despesas correntes — e qual será a participação real do capital externo nesse processo.