Imagine dois filhotes alçando voo e, de repente, sendo surpreendidos por uma tempestade tão violenta que não conseguem voltar ao abrigo. É esse o cenário que pesquisadores sugerem ter acontecido há cerca de 150 milhões de anos na região que hoje é a Baviera, no sul da Alemanha.
O achado
O estudo, publicado na revista Current Biology, analisou dois pequenos fósseis da formação calcária platy de Solnhofen. Os espécimes, apelidados de ‘Lucky’ e ‘Lucky II’, mostram fraturas compatíveis com ação de ventos muito fortes e traços de deposição em ambiente lacustre — tudo indicando que os filhotes sofreram fraturas e se afogaram em ondas após uma tempestade tropical descrita como “catastrófica”.
Como os cientistas chegaram a isso? Uniram observações dos ossos com o contexto sedimentar. As fraturas e a maneira como os sedimentos envolveram os corpos contam uma história coerente: ventos extremos, quedas e posterior soterramento em ambiente aquático.
Os dois filhotes estão entre os menores já documentados da espécie Pterodactylus antiquus, com envergadura estimada em cerca de 20 centímetros — algo próximo ao tamanho de um pequeno morcego. Em contraste, adultos dessa espécie podiam alcançar até 1,1 metro de envergadura.
O que torna o achado ainda mais notável é a preservação. Pterossauros têm ossos ocosos e de paredes finas, uma combinação ótima para voar, mas ruim para se fossilizar. Encontrar restos tão completos, que ainda guardam indícios da causa da morte, é raro — e é por isso que as peças ganharam apelidos.
Por que isso importa?
A formação de Solnhofen, datada entre 153 milhões e 148 milhões de anos, era uma paisagem marinha semitropical, com recifes e pequenas ilhas. Nessa camada, fósseis juvenis costumam aparecer com mais frequência; adultos são mais raros e frequentemente fragmentados. Reunindo evidências osteológicas e sedimentares, os autores reconstruíram esse evento de mortalidade e disponibilizaram o material para a comunidade científica, permitindo análises futuras sobre padrões de morte e preservação em pterossauros.
Para leitores na Bahia interessados em educação científica e em curiosidades históricas, o estudo é mais um exemplo de como fósseis bem preservados podem revelar episódios extremos do passado — pequenas janelas para entender como catástrofes naturais afetavam a vida aérea há milhões de anos.