Imagine acordar e ver o Sol nascer no oeste: é esse tipo de mudança que pesquisadores exploraram em simulações para entender o que aconteceria se a Terra passasse a girar no sentido contrário. O estudo mostra que não seriam apenas imagens curiosas no céu — a rotação invertida mexeria com correntes, ventos, clima, agricultura e biodiversidade.
O que mudaria?
O efeito mais imediato seria visual: o Sol nasceria no oeste e se poria no leste, mudando completamente nossa percepção diária do tempo. Mas as consequências vão muito além do amanhecer.
- Correntes oceânicas seriam invertidas, o que pode transformar áreas áridas em férteis — e regiões hoje produtivas em desertos.
- As simulações apontam uma tendência geral à maior cobertura vegetal: os desertos diminuiriam cerca de 11 milhões de km², abrindo espaço para gramíneas e plantas lenhosas que acumulam mais carbono.
- Ao mesmo tempo, surgiriam novas zonas desérticas em locais inesperados, como o sudeste dos Estados Unidos, o sul do Brasil e da Argentina, e o norte da China.
- O sistema de ventos e os padrões de tempestades mudariam radicalmente, o que significa que eventos extremos poderiam ocorrer em regiões que historicamente não os registraram — exigindo adaptações totalmente novas.
Mas por que estudar algo tão improvável? Essas simulações ajudam a ver o quão sensíveis são os sistemas climáticos e biogeográficos a mudanças na circulação atmosférica e oceânica — um exercício para entender causas e efeitos.
“[Reverter a rotação da Terra] preserva todas as principais características da topografia, como tamanhos, formas e posições dos continentes e oceanos, ao mesmo tempo em que cria um conjunto completamente diferente de condições para as interações entre a circulação e a topografia,” disse Florian Ziemen, do Instituto Max Planck de Meteorologia, comentando a simulação.
E a probabilidade?
Reverter a rotação não é algo plausível por processos naturais do dia a dia. Para inverter o giro seria necessária uma colisão catastrófica com um corpo do tamanho da Lua — um impacto dessa escala não só mudaria o sentido da rotação, como teria efeitos tão severos que a sobrevivência da maior parte das espécies seria improvável.
Os autores ressaltam que o propósito do exercício foi estritamente científico: testar como pequenas alterações físicas podem provocar grandes mudanças no equilíbrio do planeta e usar essas respostas para compreender melhor a dinâmica do clima e da vida na Terra.