Por baixo da espessa camada de gelo da Antártida há um mundo inesperado — e os cientistas estão começando a tirá-lo do escuro. Como é possível descobrir o que existe debaixo de quilômetros de gelo?
Como fizeram o mapeamento
Para chegar lá, equipes combinaram várias técnicas: imagens de radar, medições de gravidade e a chamada reflexão sísmica — que é o envio de ondas sonoras fortes para o subsolo e a leitura dos ecos, como um ultrassom da Terra. Em algumas campanhas também perfuraram diretamente o gelo; em regiões do Polo Sul foi preciso furar quase 5 km para alcançar o que está abaixo.
Em um desses esforços, pesquisadores perfuraram cerca de 2,8 km até o leito rochoso e recolheram amostras com até aproximadamente 1,2 milhão de anos. Esses testemunhos ajudam a montar um retrato bem mais detalhado do subsolo.
Dr. Hamish Pritchard, glaciologista da British Antarctic Survey e autor principal do estudo, resumiu a importância do trabalho afirmando que identificaram os caminhos por onde o gelo derretido pode fluir pelo continente à medida que as temperaturas sobem.
O que está lá embaixo
O mapeamento revelou que a camada de gelo é, em muitos pontos, mais espessa do que se pensava, e que há mais gelo assente sobre leito rochoso abaixo do nível do mar — uma combinação que deixa partes da Antártida mais expostas à água oceânica quente nas suas bordas. Entre as estruturas já identificadas estão:
- Lago Vostok, o maior lago subglacial, a cerca de 4 km abaixo da superfície;
- Cânion Denman, considerado o cânion terrestre mais profundo, com mais de 3 km abaixo do nível do mar;
- Bacia Subglacial de Wilkes, uma vasta região de leito rochoso abaixo do nível do mar;
- e sinais de paisagens antigas — desde florestas tropicais até fósseis de dinossauros e indícios de continentes que já foram diferentes do que vemos hoje.
Como explicou o especialista em mapeamento Peter Fretewell, essa configuração coloca o gelo em maior risco de derretimento devido à incursão de água quente do oceano nas franjas do continente, o que torna a Antártida um pouco mais vulnerável do que se imaginava.
Por que isso importa
Essas descobertas não esgotam o que há para aprender — pelo contrário. Saber onde o gelo pode derreter primeiro e por quais caminhos a água vai fluir ajuda a prever como o nível do mar e o comportamento das camadas de gelo podem mudar. Por isso, novas campanhas de perfuração e levantamentos geofísicos estão planejados, para ampliar o mapeamento e refinar projeções sobre o futuro do gelo diante do aquecimento.