Pesquisadores do Smithsonian Tropical Research Institute registraram algo incomum: a ressurgência sazonal no Golfo do Panamá não aconteceu entre dezembro de 2024 e abril de 2025. Segundo o estudo citado pelo IFLScience, a anomalia foi atribuída principalmente à ausência dos ventos alísios que costumam impulsionar esse processo.
Como funciona a ressurgência
Quando os ventos fortes do norte empurram as águas superficiais para longe da costa, águas profundas e ricas em nutrientes — como nitratos e fosfatos — sobem à superfície. É como abrir uma torneira de alimento: o fitoplâncton se alimenta desses nutrientes e, com isso, a costa fica mais fresca durante o verão.
O que mudou e por que importa
Sem essa reposição, a base da cadeia alimentar perde força. Menos nutrientes significa menos fitoplâncton, e isso pode repercutir em peixes, aves e mamíferos marinhos. Além disso, os recifes de corais ficam mais expostos ao estresse térmico sem o efeito de resfriamento costeiro.
Quais foram os impactos apontados pelo estudo?
- redução do aporte de nutrientes ao fitoplâncton;
- ameaça à disponibilidade de peixes, aves e mamíferos marinhos;
- maior vulnerabilidade dos recifes de corais ao calor;
- perda do efeito de resfriamento do litoral panamenho;
- risco de prejuízos às comunidades pesqueiras locais.
O artigo publicado na revista PNAS destaca que a principal causa foi a diminuição dos ventos, mostrando como mudanças no clima podem alterar processos oceânicos que sustentaram comunidades pesqueiras por gerações.
Possíveis causas e o que falta entender
Os autores mencionam que o episódio de La Niña, observado pela última vez em dezembro de 2024, pode ter afetado a Zona de Convergência Intertropical e contribuído para a queda dos alísios. Mas a interação exata entre esses fatores ainda não está clara e exige estudos adicionais.
Os pesquisadores alertam que a falha na ressurgência pode afetar a pesca e a economia costeira — um lembrete de que o funcionamento dos ecossistemas marinhos está diretamente ligado à subsistência humana na região.
Como desdobramento, o estudo recomenda monitoramento ampliado, modelagem preditiva e pesquisas direcionadas sobre as interações entre oceanografia, ecologia e dependência humana em sistemas de ressurgência tropical. Em outras palavras: é preciso observar mais, prever melhor e investigar por que o mar está mudando.