Imagine um asteroide do tamanho de um prédio — cerca de 100 metros — vindo em nossa direção. Um estudo da Johns Hopkins simulou justamente isso: detonar uma ogiva nuclear a poucos metros do corpo para tentar desviar sua trajetória e evitar a colisão.
Segundo os pesquisadores, a ideia não é pulverizar o asteroide, mas deslocá‑lo. A explosão próxima liberaria uma onda intensa de radiação térmica que vaporiza parte da superfície de modo assimétrico. Esse escape de material gera um recuo — como o jato que empurra um bote — capaz de alterar a órbita do objeto.
Como funcionou nos modelos
Nos modelos, essa forma de deflexão mostrou vantagens em relação a tentar empurrar ou colidir diretamente, como nas missões de impacto cinético. Em cenários com um asteroide do tamanho de Bennu, as simulações indicaram que, se a ogiva fosse detonada no ponto certo e com potência adequada, a manobra poderia ter sucesso mesmo quando o tempo de resposta fosse curto.
O tempo de antecedência, porém, é decisivo: quanto mais cedo um asteroide for detectado, mais simples e segura fica a missão de desvio. Em situações com apenas semanas antes do impacto previsto, os modelos sugerem que a detonação nuclear poderia surgir como alternativa viável.
Mas vale correr o risco?
- A explosão pode fragmentar o asteroide em pedaços grandes o suficiente para causar múltiplos impactos catastróficos.
- O Tratado do Espaço Exterior proíbe testes e uso de armas nucleares fora da Terra, o que cria barreiras legais importantes à estratégia.
- A operação exigiria tecnologia avançada para levar a ogiva até uma órbita precisa e garantir a detonação na distância ideal; erros de cálculo poderiam até agravar a ameaça.
Os autores tratam a detonação nuclear como um recurso de último caso, a ser considerado apenas quando outras opções não forem possíveis. Missões de impacto cinético, como a DART da NASA, já mostraram que é possível alterar trajetórias — embora de forma modesta — e a maioria dos objetos próximos à Terra já está catalogada e não representa ameaça iminente.
O trabalho reabriu o debate sobre o uso de tecnologias militares na defesa planetária e sublinhou a necessidade de planejamento, transparência e acordos internacionais específicos antes de qualquer ação desse tipo, segundo a Nature.
Em resumo: a explosão nuclear próxima a um asteroide pode funcionar em situações de emergência, mas traz riscos técnicos, legais e políticos que a tornam, na prática, uma opção de último recurso.