Um aquecimento súbito há 56 milhões de anos mudou profundamente as plantas e a maneira como elas eram polinizadas na Bacia de Bighorn, em Wyoming.
O achado vem de um estudo apresentado no The Conversation pela paleontóloga Vera Korasidis, da Universidade de Melbourne. Esse episódio, chamado de Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno, elevou a temperatura média global em cerca de 6°C ao longo de aproximadamente 5 mil anos — um aquecimento ligado a uma grande liberação de carbono, possivelmente causada por atividade vulcânica e liberação de metano de sedimentos marinhos.
O que os fósseis de pólen mostram
Os pesquisadores analisaram pólen fóssil da região e viram uma mudança clara na forma de polinização. Espécies que dependiam do vento foram perdendo espaço, enquanto plantas que dependem de animais — abelhas, borboletas, moscas, mariposas e até alguns vertebrados — passaram a ter papel maior na reprodução das comunidades vegetais.
Em outras palavras, as plantas tropicais se expandiram para áreas antes mais frias e secas, e os polinizadores acompanharam essa migração. Algumas espécies locais, adaptadas à polinização pelo vento, desapareceram ou foram substituídas por espécies vindas de climas mais quentes e secos.
O processo não foi instantâneo, e os efeitos do aquecimento se estenderam por mais de 100 mil anos, até que as temperaturas voltaram a cair e as florestas retornaram à Bacia de Bighorn.
Principais lições
- Houve uma grande liberação de carbono na atmosfera e nos oceanos.
- O aquecimento global foi da ordem de 6°C.
- O evento principal durou cerca de 5 mil anos, com consequências por mais de 100 mil anos.
- As plantas tropicais se expandiram e a polinização por animais aumentou.
- A polinização pelo vento diminuiu em importância localmente.
Conexão com o presente
O estudo também compara esse evento com as mudanças recentes: nos últimos 150 anos a concentração de dióxido de carbono subiu cerca de 40% e a temperatura média global aumentou mais de 1,3°C — níveis que, segundo a pesquisadora, superam tudo o que foi visto nos últimos 2,5 milhões de anos.
O recado é direto: taxas rápidas de mudança ambiental dificultam a sobrevivência das espécies e tornam mais difícil a restauração das comunidades originais. Manter as taxas de mudança baixas pode ser a melhor aposta para evitar extinções e permitir que ecossistemas se restabeleçam com estruturas parecidas às anteriores.
Então, o que nos diz um pólen fossilizado de 56 milhões de anos? Que plantas e polinizadores se movem juntos, que mudanças rápidas rearranjam ecossistemas e que a velocidade das mudanças importa — hoje tanto quanto no passado.