Imagine um monstro gigante, pegajoso e nojento, crescendo silenciosamente bem debaixo dos seus pés, nas tubulações de esgoto da sua cidade. Parece coisa de filme de terror, né? Mas essa realidade, infelizmente, é bem mais comum do que se pensa. Estamos falando dos “fatbergs” – literalmente, icebergs de gordura – que se formam quando jogamos óleo de cozinha, gordura, fraldas e outros lixos não biodegradáveis ralo abaixo. Essas massas assustadoras não só entopem tudo como causam prejuízos milionários e dores de cabeça gigantescas. Um problema global que já afeta metrópoles, e que acende um alerta importante para cidades brasileiras, inclusive na nossa Bahia, onde o saneamento básico é um assunto crucial.
O Custo Escondido Desse Monstro
E esses ‘monstros’ não são apenas feios; eles são caros. Muito caros! Pense na cidade de Nova York: anualmente, eles gastam cerca de US$ 18,8 milhões (isso dá uns R$ 102 milhões, para termos uma ideia) só para se livrar dessas pragas antes que a situação piore. Lá em Londres, no Reino Unido, a coisa já foi tão séria que, em 2017, encontraram um fatberg de impressionantes 250 metros de comprimento e 130 toneladas – imagine o tamanho de um prédio de 10 andares, mas feito de gordura e lixo! No Brasil, a conta também é salgada: mais de R$ 2 milhões saem dos cofres públicos por ano para combater o problema. E se você acha que é exagero, saiba que em Curitiba, no Paraná, mais da metade dos entupimentos da rede de esgoto (exatamente 51%) são causados por gordura descartada de forma errada, principalmente óleo de cozinha. É chocante, não é?
Como Esses Monstros Nascem?
Mas como esses entulhos gordurosos ganham vida? É uma combinação perigosa, e a maior parte da culpa está no nosso descarte incorreto de lixo e gordura. Os principais ingredientes dessa receita desastrosa são:
- **Óleo de cozinha e gordura:** Jogar no ralo é um convite para o desastre.
- **Sistemas de esgoto misturados:** Em muitas casas, a água da pia da cozinha e do chuveiro se junta com a do vaso sanitário sem uma separação adequada, facilitando a aglomeração.
- **Lixo no vaso sanitário:** Itens como lenços umedecidos, cotonetes e absorventes – que não deveriam estar ali – se agarram à gordura e formam uma massa ainda maior.
- **Caixas de gordura deficientes:** Se sua caixa de gordura não está funcionando bem ou nem existe, a gordura vai direto para a rua.
Pense assim: a gordura, o óleo e a graxa (ou FOG, como os técnicos chamam) se encontram com a água suja do esgoto e com o cálcio das tubulações. É como uma reação química que os transforma em uma pedra gigante e pegajosa que, com o tempo, bloqueia tudo. Um verdadeiro pesadelo para qualquer encanamento!
Uma Luz no Fim do Túnel (e do Esgoto!)
Mas nem tudo é desespero! Enquanto esses “monstros” crescem lá embaixo, a ciência corre para encontrar soluções. Uma equipe de engenheiros da Universidade RMIT, na Austrália, acaba de desenvolver um coletor de gordura que é uma verdadeira revolução. Ele parece um coletor comum por fora, mas por dentro é pura tecnologia! Com barreiras internas, o dispositivo desacelera o fluxo da água, dando tempo para as partículas maiores de gordura se separarem. E tem mais: ele usa um agente químico, o alúmen (daqueles usados para tratar água), que faz as gorduras menores se juntarem, facilitando ainda mais a remoção. É inteligente, não é?
A Dra. Nilufa Sultana, líder dessa pesquisa e principal autora do artigo publicado na ACS ES&T Water, explicou: “Enquanto os coletores tradicionais só conseguem remover cerca de 40% da gordura, nosso sistema alcançou a impressionante marca de 98% de remoção – e isso testando com a água suja de cozinha real!”. Uma diferença e tanto!
E a boa notícia é que esse sistema não se intimida com água quente nem com detergente de louça, o que significa que ele pode ser usado em cozinhas de todos os tamanhos, desde a sua casa até grandes restaurantes. Flexível e super eficiente!
O Caminho à Frente: Tecnologia e Consciência
Mesmo com esse avanço incrível, os cientistas da RMIT sabem que a jornada continua. Eles já pensam em novas melhorias, como otimizar o sistema para remover a gordura sem precisar de nenhum químico, tornando-o ainda mais sustentável e pronto para o mercado. Mas, por mais que a tecnologia avance, a batalha contra os fatbergs tem um herói essencial: você! A pesquisa e o desenvolvimento são cruciais, sim, mas a conscientização da população sobre como descartar corretamente o lixo e o óleo de cozinha é o que realmente fará a diferença. É um esforço global, mas que começa em cada casa, em cada pia, em cada ralo. E essa mensagem é especialmente importante para regiões como a Bahia, onde cada pequena atitude conta para um saneamento mais limpo e um futuro sem monstros de gordura escondidos.