A torcida do Esporte Clube Bahia mal se recuperava da emoção da classificação para a final da Copa do Nordeste, garantida pelo gol salvador de Tiago, e já tinha assunto novo na roda. Em meio à festa, o técnico Rogério Ceni abriu o jogo sobre um tema que sempre rende debate: a hora certa de lançar os garotos da base no time principal. E ele não se esquivou, explicando com clareza a estratégia do clube para lapidar os jovens talentos do futebol na Bahia.
O Dilema do Treinador: “Põe ou Não Põe?”
Depois da partida que carimbou a vaga do Tricolor, a pergunta sobre usar mais jogadores da base veio à tona. Ceni, com a experiência de quem já viveu isso muitas vezes, trouxe à luz o dilema real que todo técnico enfrenta em jogos que valem muito. É como andar na corda bamba: qualquer passo em falso pode virar alvo de crítica.
“Eu poderia ter escalado o time sub-20, mas também correria o risco de ser eliminado, e aí você estaria me questionando por que não usei os titulares contra um time de Série A como o Ceará”, ponderou Ceni. Ele continuou, desenhando o cenário ingrato: “Quando a gente coloca o menino, dizem que é para ‘queimar’. Quando não coloca, reclamam. A questão é bem mais complexa: será que esse garoto está pronto para render mais que um jogador experiente? Será que três garotos juntos conseguem manter o padrão de jogo que nosso time precisa em um momento decisivo?”
Construindo o Futuro: Desenvolvimento e Descoberta
O treinador fez questão de reforçar que a busca por novos talentos faz parte da filosofia do trabalho. Não é uma questão de “se”, mas de “quando” e “como”. Para ele, é no campo, nas oportunidades dadas, que os jogadores são verdadeiramente descobertos e amadurecem.
“Nosso objetivo é descobrir jogadores novos, testar posições, improvisar. As chances vão aparecendo, e a comparação é inevitável. Não dá para exigir que a experiência de um Tiago ou um Sidney seja a mesma de um Ademir ou um Michel, mas é exatamente assim que identificamos quem tem potencial e quem está pronto para dar o próximo passo”, explicou, mostrando a paciência necessária no processo.
Kauê Furquim e a Realidade da Base
A discussão sobre a base ganhou ainda mais destaque com a recente chegada do atacante Kauê Furquim, de apenas 16 anos, que veio do Corinthians por R$ 14 milhões. Uma aposta alta! Ceni deixou claro que o jovem será observado de perto, mas jogou um balde de água fria na expectativa de vê-lo em campo imediatamente, questionando a real preparação de atletas sub-17 para partidas de tamanha pressão, e lembrando a posição do clube nos campeonatos de base.
“Está chegando um jogador do Corinthians que, claro, vamos observar com atenção. O Grupo City faz contratações visando a base, e temos que dar a devida atenção”, afirmou. Mas logo em seguida, trouxe a realidade: “Em que posição estamos no Brasileiro Sub-20? Décimo sexto. E no Sub-17? Será que estamos, de fato, prontos para lançar esses garotos na Arena contra um Ceará da vida? Precisamos treiná-los, fazê-los evoluir. Esse é o grande objetivo do clube, um passo de cada vez.”
A gestão do Bahia, com o acompanhamento próximo do Grupo City nas categorias de base, reflete um compromisso sério com a formação e o amadurecimento desses atletas. A estratégia vai muito além da performance de hoje. Ela mira a sustentabilidade e o futuro do futebol na Bahia, buscando aprimorar continuamente os jovens talentos para que possam, de forma gradual e consistente, integrar a equipe principal e fazer a diferença nos momentos mais importantes. É um investimento no amanhã do Esquadrão.