Faltam exatos 18 dias para um dos julgamentos mais esperados da história recente do Brasil. Nesta sexta-feira (15), o ministro Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), bateu o martelo: no dia 2 de setembro, às 9h, começa o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete aliados, acusados de tentativa de golpe de Estado.
A data abre uma maratona de sessões que pode decidir não só o futuro político do ex-presidente, mas também se ele passará décadas atrás das grades. O cronômetro já está correndo — e cada dia que passa aumenta a tensão em Brasília.
O que está em jogo
Chamado de julgamento do “núcleo crucial” da suposta trama golpista, esse é o primeiro grande teste judicial para Bolsonaro desde que deixou o Palácio do Planalto. Hoje em prisão domiciliar, ele enfrenta cinco acusações que, somadas, podem render até 46 anos de cadeia.
Entre elas estão:
- Liderança de organização criminosa armada (pena de até 20 anos)
- Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito (até 8 anos)
- Golpe de Estado (até 12 anos)
- Dano qualificado contra patrimônio da União (até 3 anos)
- Deterioração de patrimônio tombado (até 3 anos)
A Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta Bolsonaro como o principal articulador e beneficiário do plano para se manter no poder após a derrota nas urnas em 2022. Nas alegações finais, apresentadas em julho, a PGR reforçou que o ex-presidente teria desempenhado um papel central na suposta conspiração.
Como será o julgamento
O ministro Zanin reservou oito sessões, distribuídas em cinco dias, para encerrar o caso ainda em setembro. O calendário está definido:
- 2 de setembro (terça): manhã e tarde — abertura com a leitura do relatório de Alexandre de Moraes
- 3 de setembro (quarta): sessão pela manhã
- 9 de setembro (terça): manhã e tarde
- 10 de setembro (quarta): sessão pela manhã
- 12 de setembro (sexta): manhã e tarde — previsão de conclusão
Quem mais está no banco dos réus
Além de Bolsonaro, outros sete nomes de peso do seu governo serão julgados:
- Walter Braga Netto — ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, preso por obstrução de justiça
- Alexandre Ramagem — deputado federal e ex-diretor da Abin
- Anderson Torres — ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF no 8 de janeiro
- Augusto Heleno — ex-ministro do GSI e general da reserva
- Paulo Sérgio Nogueira — ex-ministro da Defesa
- Almir Garnier — ex-comandante da Marinha
- Mauro Cid — ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator-chave do caso
Reflexos na eleição de 2026
O veredicto vai mexer diretamente no tabuleiro político. Bolsonaro já está inelegível até 2030 por decisão do TSE, mas uma condenação no STF enterraria de vez qualquer possibilidade de retorno às urnas.
Mesmo assim, aliados como João Roma, presidente do PL na Bahia, seguem apostando nele como “plano A, B e C” para 2026. Mas a política é implacável: uma pesquisa recente mostra que a maioria dos deputados federais acredita que Bolsonaro deveria desistir de vez da disputa.
Expectativa de rapidez
Diferente de outros casos que se arrastam por anos, ministros do STF avaliam que não haverá pedidos de vista capazes de atrasar a decisão. Todos acompanharam de perto o processo, e até o ministro Luiz Fux participou de acareações ao lado do relator Alexandre de Moraes.
O julgamento será transmitido ao vivo pela TV e Rádio Justiça e pelo canal do STF no YouTube — uma vitrine completa para um momento que promete entrar para a história.
Nos próximos 18 dias, o Brasil vai assistir a uma contagem regressiva carregada de expectativa. A partir de setembro, saberemos se o destino político de Bolsonaro está selado — e, talvez, estaremos presenciando um marco para a democracia do país.