A sonda Voyager 1, um marco da exploração espacial, prossegue em sua jornada para os confins do Sistema Solar, direcionando-se a uma área ainda pouco compreendida pelos cientistas: a Nuvem de Oort. Lançada em 1977 pela NASA, a nave já superou a órbita de Netuno e transcendeu a influência solar, adentrando um território cósmico inexplorado.
Estima-se que a Voyager 1, o objeto construído por humanos mais distante da Terra, chegará à hipotética Nuvem de Oort em cerca de 300 anos. A travessia completa dessa vasta região, onde se originam cometas de longo período, levará aproximadamente 30 mil anos antes que a sonda alcance o espaço interestelar profundo, onde outras estrelas e seus sistemas planetários aguardam.
Legado da Missão Voyager
Inicialmente concebida para estudar Júpiter e Saturno, a missão Voyager expandiu significativamente o conhecimento da humanidade. A sonda capturou imagens inéditas de Urano e Netuno e realizou o feito pioneiro de atravessar a heliosfera, uma bolha protetora solar contra ventos estelares. Atualmente, a Voyager 1 está a 167 unidades astronômicas da Terra, uma distância que faz com que uma mensagem de comando demore mais de 23 horas para ser recebida pela nave.
Com uma velocidade constante de 61 mil km/h, a sonda está prestes a alcançar outro recorde: ser a primeira nave a estar a um dia-luz de distância da Terra nos próximos 12 meses. Apesar da energia da sonda estar diminuindo, segundo a NASA, a sua odisseia espacial está apenas em seu início, com bilhões de anos de viagem ainda pela frente.
A Enigmática Nuvem de Oort
A Nuvem de Oort, uma estrutura esférica de objetos cósmicos, localiza-se nos limites da atração gravitacional do Sol. Sua existência foi teorizada em 1950 pelo astrônomo alemão Jan Oort, que propôs essa região fria e distante para explicar a origem de cometas de longo período. Os componentes predominantes dessa área são gelo de água, metano e amônia.
A hipótese mais aceita é que a Nuvem de Oort foi formada por detritos e planetesimais remanescentes do período inicial da formação dos planetas gigantes. Conforme projeções da NASA, a borda interna da nuvem pode começar a cerca de mil unidades astronômicas do Sol, estendendo-se até cem mil unidades astronômicas. Após a travessia, a Voyager 1 poderá continuar sua jornada por bilhões de anos.
O Disco de Ouro: Uma Mensagem ao Cosmos
Anexado à estrutura da Voyager 1, encontra-se o Disco de Ouro, uma cápsula do tempo contendo imagens, sons da Terra, ilustrações do DNA e informações sobre a civilização humana. Este registro foi projetado para servir como uma memória final de nosso planeta, caso uma forma de vida extraterrestre o intercepte no futuro distante.
Um estudo de 2020 indicou que, após 5 bilhões de anos de viagem sem grandes impactos, a probabilidade de o lado externo do Disco de Ouro sofrer danos e se tornar indecifrável é de 99%. Contudo, a face interna do disco poderia resistir até a fusão da Via Láctea com a galáxia Andrômeda, prevista para ocorrer em 4 a 5 bilhões de anos. Após esse evento cósmico, a sonda poderia ser impelida para o espaço intergaláctico, onde as taxas de degradação diminuiriam, permitindo que a Voyager persista em sua travessia cósmica por trilhões de anos.