O cenário do samba amanheceu mais silencioso nesta sexta-feira (8) com a confirmação da morte de Arlindo Cruz, um dos maiores nomes do gênero musical, aos 66 anos. A notícia foi confirmada pela família do artista carioca. Arlindo Cruz enfrentava graves sequelas de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico, ocorrido em março de 2017, que o afastou dos palcos.
O AVC que acometeu o sambista há oito anos resultou em um longo período de internação e tratamentos. A última performance do cantor antes do AVC foi em 14 de março de 2017, dias antes de um show agendado em Salvador, na Bahia, pelo Festival Vozes do Brasil, que não chegou a ser realizado.
A Luta Pela Recuperação
Após o incidente, Arlindo Cruz permaneceu internado por mais de um ano na Casa de Saúde São José, localizada no Humaitá, na zona sul do Rio de Janeiro. Em seguida, o artista passou a receber cuidados de home care, visando a reabilitação das sequelas do AVC, que incluíam significativas dificuldades na fala e na mobilidade.
Houve períodos de melhora no quadro de saúde do cantor. Familiares chegaram a relatar que ele recuperou parte dos movimentos da boca, o que permitiu a ingestão de alimentos pastosos e auxiliou na expressão de sentimentos. A melhora motora também foi notada, com Arlindo respondendo a estímulos e conseguindo se ajustar na cama. Contudo, o quadro regrediu após internações subsequentes.
“Tivemos momentos lindos dele segurando copo, segurando biscoito… Hoje não temos mais isso do Arlindo. Hoje ele está bem dentro do mundinho dele, do universo dele. Bem distante”, declarou Babi Cruz, esposa do artista, em seu livro sobre o marido, após uma alta médica no início de julho, após dois meses internado devido a uma bactéria resistente adquirida após pneumonia.
Legado Musical
Arlindo Cruz iniciou sua trajetória profissional em 1981, nas icônicas rodas de samba do Cacique de Ramos. Lá, ele conviveu e se apresentou ao lado de figuras notáveis como Jorge Aragão, Beto Sem Braço, Almir Guineto e Candeia, a quem considerava um “padrinho musical”.
Antes de sua ascensão no samba, Arlindo já demonstrava seu talento musical, tendo estudado solfejo e violão clássico na escola Flor do Méier e integrado o coral na Epcar, em Barbacena, Minas Gerais.
Entre 1981 e 1993, Arlindo foi um membro fundamental do Grupo Fundo de Quintal, onde substituiu Jorge Aragão e se destacou tocando banjo-cavaquinho. Sua contribuição foi crucial na composição de canções que moldaram o que hoje é conhecido como pagode moderno. Em 1993, o artista deu o passo decisivo para sua carreira solo. Entre os trabalhos de destaque dessa fase estão a parceria com Sombrinha (1996-2002), o aclamado “Da Música” (1996) e o DVD “MTV ao Vivo: Arlindo Cruz” (2009), que vendeu mais de 100 mil cópias.
Além de sua voz marcante, Arlindo Cruz era reconhecido por sua prolífica capacidade de composição. De acordo com o Ecad, ele registrou 795 obras, com aproximadamente 1797 gravações por diversos intérpretes renomados, incluindo Zeca Pagodinho, Maria Rita e Beth Carvalho.
Sua carreira vitoriosa incluiu cinco indicações ao Grammy Latino (quatro na categoria álbum de samba/pagode e uma em canção em português), além de 26 prêmios conquistados, como o Prêmio da Música Brasileira em 2015 e o Estandarte de Ouro. Em 2025, a biografia “O Sambista Perfeito”, escrita por Marcos Salles, será lançada, abordando a vida pessoal e profissional de Arlindo, com depoimentos de cerca de 120 pessoas entre artistas e familiares, inclusive revelando aspectos de sua infância e o uso de drogas, tema que passou a ser abordado publicamente após o AVC.