O surgimento do chamado “acarajé do amor” em cidades como Aracaju (SE) e Maceió (AL) provocou polêmica e dividiu opiniões nas redes sociais. Inspirada no sucesso do “morango do amor”, a nova versão do tradicional quitute baiano ganhou cobertura doce e morangos, substituindo os acompanhamentos clássicos como vatapá, camarão e caruru.
A inovação, criada pela empreendedora sergipana Ingrid Carozo, rapidamente viralizou na internet. Segundo Ingrid, a ideia surgiu para acompanhar tendências das redes sociais e atrair novos públicos. “No dia que vi que o morango do amor estava em alta, comprei os ingredientes e, junto com a cozinheira, fizemos o acarajé do amor e divulgamos na rede social do estabelecimento”, contou ao g1. A novidade, porém, não agradou a todos. Enquanto parte do público elogiou a criatividade, outros criticaram a adaptação de um prato reconhecido como patrimônio cultural da Bahia.
A Associação de Baianas de Acarajé (Abam), com sede em Salvador, divulgou uma nota de repúdio na última sexta-feira (1º), reforçando que não aceita qualquer tipo de alteração na receita e no modo de preparo do acarajé. “Somos empreendedoras ancestrais e focadas na tradição deixada por nossos antepassados, sem surfar nas influências contemporâneas sem propósito”, afirmou a entidade, destacando o valor cultural e religioso do quitute.
O debate sobre inovações no acarajé não é novo. Nos últimos anos, outras versões criativas, como o acarajé cor-de-rosa, acarajé pizza, barca de acarajé e até acarajé em formato de picolé, também geraram discussões e foram reprovadas pela Abam. Para a associação, o acarajé é mais do que um alimento: é um símbolo de resistência, religiosidade e identidade baiana, reconhecido como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O preparo do acarajé, tradicionalmente feito com feijão-fradinho, cebola e sal, frito no azeite de dendê e servido com recheios salgados, foi trazido ao Brasil por africanos escravizados e mantido por gerações de baianas. Além de sustento para milhares de famílias, o quitute é considerado sagrado no universo do candomblé, sendo ofertado aos orixás.
A Abam conclui que, apesar das tendências e inovações gastronômicas, a tradição do acarajé deve ser preservada, mantendo viva a herança cultural e religiosa da Bahia.