A menos de uma semana para a entrada em vigor de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, o governo dos Estados Unidos avalia que o Brasil não demonstrou engajamento significativo nem apresentou propostas relevantes nas negociações. A percepção foi revelada por um integrante do governo norte-americano à Folha de S.Paulo, em um cenário de preparativos para a instituição da medida, programada para 1º de agosto.
Em contrapartida, negociadores brasileiros afirmam que o processo formal de tratativas encontra-se paralisado, aguardando um sinal verde direto da Casa Branca. Eles indicam que ofertas foram feitas aos Estados Unidos ainda antes de Donald Trump, ex-presidente americano, anunciar a elevação da tarifa de 10% para 50%.
Impasse e Contatos Diplomáticos
O governo brasileiro, contudo, mantém a posição de que não fará concessões em relação à dimensão política da carta enviada por Trump, na qual ele justificou as tarifas, em parte, pela “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Autoridades brasileiras relatam que o governo americano permanece em silêncio quanto às propostas apresentadas.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, buscou contato com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, mas foi informado de que a decisão sobre o tema repousa na Casa Branca. Por sua vez, o ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, conversou por 50 minutos com o secretário do Comércio, Howard Lutnick, no sábado (19), reforçando a disposição brasileira ao diálogo.
“Todo dia ele liga para alguém e ninguém quer conversar com ele”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na sexta-feira (25), referindo-se às tentativas de Alckmin de negociar com os EUA.
Propostas Anteriores e Cenário Político
Ainda em maio, integrantes do governo brasileiro enviaram uma proposta de negociação por carta às autoridades americanas, quando as tarifas ainda estavam em 10%. O documento incluía pedidos de isenção ou redução do tributo para certos produtos, bem como concessões por parte do Brasil. Na semana passada, uma nova carta foi expedida, assinada por Alckmin e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, manifestando indignação e exigindo uma resposta de Washington.
A situação brasileira se distingue da de outros países, como Japão e Indonésia, com os quais Trump já fechou acordos nesta semana. A carta do ex-presidente americano a Lula citou também “centenas de ordens” do Judiciário brasileiro que, segundo ele, censuram a “liberdade de expressão”. O Supremo Tribunal Federal (STF) tem postura categórica de não recuar no julgamento do ex-presidente, e Lula classificou a fala como uma tentativa de interferência na soberania do Brasil.