Um novo estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) apresenta um método inédito no Brasil para estimar a real incidência de câncer no país. A nova abordagem, que demonstrou desempenho superior aos modelos atualmente utilizados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), surge em um cenário onde a subnotificação de casos é um desafio persistente.
O câncer representa a segunda principal causa de óbitos no Brasil, registrando 279 mil mortes em 2022. Projeções do INCA indicam que este número pode quase dobrar até 2050, alcançando 554 mil vítimas, um aumento de 98,6%. A dificuldade em obter dados precisos sobre a real incidência da doença decorre da falta de sistemas de notificação e registro de tumores em todos os municípios brasileiros, levando à subnotificação.
Atualmente, o INCA estima novos casos por meio de metodologias baseadas na razão incidência/mortalidade, utilizando dados de óbitos. Esta abordagem, fundamentada em referências literárias consolidadas, calcula a estimativa de curto prazo a partir da média simples dos três anos mais recentes disponíveis. Tais informações são cruciais para o planejamento das ações do Sistema Único de Saúde (SUS) nos anos seguintes.
Metodologia Inovadora
A pesquisadora Thaís Spiegel, da UERJ, detalhou o novo trabalho em um artigo publicado no The Conversation. O estudo aplicou e comparou diferentes modelos de previsão para os sete tipos de câncer mais comuns no Brasil, que incluem:
- Câncer de mama
- Câncer de próstata
- Câncer de pulmão
- Câncer colorretal
- Câncer de colo do útero
- Câncer de cabeça e pescoço
- Câncer infantil
As metodologias foram classificadas em três categorias principais: modelos estatísticos clássicos, modelos de espaço de estados e modelos baseados em aprendizado de máquinas. As informações populacionais para o estudo foram obtidas a partir do Censo Demográfico de 2022.
O projeto-piloto desta nova abordagem foi implementado no município de Niterói, no Rio de Janeiro. Ao integrar dados epidemiológicos locais, georreferenciamento de serviços e modelagem das linhas de cuidado, o plano permite aos gestores municipais responder a questões essenciais, como a quantidade esperada de casos, a identificação de vazios assistenciais e a necessidade de reorganização ou contratação de recursos.
Projeções e Recomendações
O plano desenvolvido pela UERJ oferece uma ferramenta técnica para otimizar o planejamento de investimentos, aprimorar a regulação de vagas no SUS e melhorar o acesso à saúde, com base em evidências científicas e foco na experiência do paciente. Ao comparar os modelos propostos com o método vigente no país, a pesquisadora observou que a abordagem atual do INCA apresentou desempenho inferior em todos os tipos de câncer analisados.
Diante desses resultados, Thaís Spiegel e sua equipe sugerem que os métodos avaliados em seu estudo sejam incorporados à metodologia de previsão do INCA. A adoção de técnicas mais modernas e sensíveis pode proporcionar estimativas mais precisas e úteis para o planejamento eficaz da saúde pública no Brasil. Para investigações futuras, os pesquisadores recomendam aprofundar a comparação entre modelos baseados em aprendizado de máquina.