A cantora Preta Maria Gadelha Gil Moreira, embora nascida no Rio de Janeiro em 8 de agosto de 1974, cultivou uma conexão profunda e constante com Salvador, na Bahia. A capital baiana foi para a artista sua segunda casa, um laço estabelecido desde os primeiros meses de vida.
Filha de Gilberto Gil e Sandra Gadelha, e afilhada de Gal Costa, além de sobrinha de Caetano Veloso, todos com raízes baianas, Preta Gil mudou-se para Salvador aos seis meses de idade. Foi na cidade, inicialmente em uma comunidade hippie, que ela aprendeu a ler e escrever.
Primeiras memórias e superação
Em uma entrevista de 2020 ao programa “Que História É Essa, Porchat?”, Preta Gil relatou ter sofrido preconceito linguístico ao retornar ao Rio de Janeiro devido à sua criação na Bahia. A situação ocorreu após a cantora recitar o alfabeto, gerando risos e questionamentos da professora sobre um suposto “dialeto”.
“Todo mundo riu da minha cara e a professora disse: ‘você está falando errado, isso é um dialeto? Uma musiquinha do Olodum?. Ela disse que falaria com minha mãe para eu repetir de ano”, relembrou a artista.
A mãe, Sandra, conhecida como Drão, recusou a sugestão de reprovação e encorajou a filha a se expressar como havia aprendido. Preta Gil considerou o retorno à escola, no dia seguinte, quando pronunciou o alfabeto à sua maneira, sua “estreia” na vida pública, afirmando: “Foi ali que comecei”.
Laços duradouros e celebrações
A relação com Salvador não se limitou à infância. Preta Gil costumava passar férias escolares na cidade, hábito que manteve sempre que possível. A última visita da cantora a Salvador ocorreu em março deste ano, antes de iniciar um tratamento experimental nos Estados Unidos.
Durante a adolescência, a presença de Preta na capital baiana continuou. Aos 16 anos, ela teve seu primeiro emprego em um camarote de Carnaval em Salvador. Já na vida adulta, a conexão se fortaleceu. Em 2006, como uma voz ativa na luta LGBT+, a cantora desfilou como madrinha da Parada Gay de Salvador, a convite do Grupo Gay da Bahia (GGB).
Em 2017, após oito anos do lançamento do “Bloco da Preta” no Rio de Janeiro, a artista puxou um trio elétrico sem cordas no Carnaval de Salvador, consolidando sua presença na folia baiana.
Influências e despedida na Bahia
As relações pessoais de Preta Gil também refletiam sua ligação com a Bahia. Seu amigo próximo, Gominho, trabalhou em uma rádio de Salvador e se mudou para o Rio de Janeiro para apoiar a cantora após o diagnóstico de câncer. Além disso, Preta Gil tinha amizade com artistas baianos como Ivete Sangalo e O Kanalha, e já namorou Márcio Victor, vocalista do Psirico, com quem colaborou artisticamente em 2024.
Mesmo durante a árdua batalha contra o câncer, Preta Gil manteve sua presença em Salvador. Na primeira sexta-feira de 2024, a cantora celebrou a remissão da doença em uma missa na Igreja de Nossa Senhora dos Rosários dos Pretos, no Centro Histórico, ao lado de familiares e amigos. Dias antes, participou do Festival Virada Salvador em um show com a família Gil.
A cantora desfrutou o Carnaval no Expresso 2222, comandado por sua família, já sob tratamento. Em março, após uma cirurgia delicada, Preta Gil mergulhou no mar de Salvador, simbolizando a remoção de tumores. Antes de retornar a São Paulo, ela se despediu da cidade com a mensagem: “Até breve, Salvador, sigo aqui minha luta com energia renovada!”.
Quatro meses e três dias após essa publicação, Preta Gil faleceu no último domingo (20), em Nova York, aos 50 anos, após não resistir ao câncer. A artista deixa um legado que transcende a música e a arte, além de seu filho, Francisco Gil, e sua neta, Sol de Maria.