Kelly Silva Jesus tinha 35 anos, três filhos e um desejo: recomeçar. Há meses, ela tentava colocar um ponto final em um relacionamento de uma década que se tornara uma prisão de ciúmes e possessividade. O medo, no entanto, a silenciava. Nesta quarta-feira (16), seu último “não” foi respondido com uma violência inimaginável. Dentro de sua casa, em Barra do Pojuca, Camaçari, ela foi morta a golpes de machado.
O autor confesso do crime é Jean Carlos, o homem com quem ela dividiu a vida e que não aceitou perdê-la. Em um ato de frieza calculado, ele esperou que os filhos do casal saíssem para a escola para cometer o feminicídio. Depois, dirigiu-se à delegacia e, segundo seu depoimento, admitiu ter “perdido a cabeça”.
Para a família de Kelly, a tragédia era uma sombra anunciada. “Ela queria se separar, mas tinha medo dele”, contou o pai, Atevaldo Ferreira de Jesus, traduzindo a angústia que precede tantos feminicídios. A ausência de denúncias formais não significava ausência de sofrimento; era o reflexo de um ciclo de controle que culminou da forma mais trágica.
A morte de Kelly mobilizou a comunidade. Vizinhos e amigos se reuniram em uma vigília silenciosa, transformando o luto em um pedido de justiça e um alerta. O caso reforça o apelo de organizações de defesa dos direitos das mulheres: é preciso denunciar os primeiros sinais, quebrar o ciclo de violência antes que seja tarde demais.
Enquanto Jean Carlos aguarda a audiência de custódia, a Polícia Civil trabalha para reunir todas as peças deste quebra-cabeça de dor. O machado foi apreendido, testemunhas serão ouvidas. Mas para a família de Kelly e para uma sociedade que ainda falha em proteger suas mulheres, a pergunta que fica é: quantas mais precisarão morrer para que o “basta” seja ouvido?