Os esportes nos Estados Unidos guardam várias características bem típicas do país. Na NFL e na NBA, por exemplo, não há rebaixamento ou subida de divisão. Na principal liga do país, a MLS, também não há esse sistema como acontece na Europa e na América Latina. Da mesma forma, em competições no país, uma prática bastante comum são as chamadas disputas back-to-back, nas quais um mesmo time joga em dias seguidos.
Tudo isso favorece um mercado bem próprio desse país, fortalecendo um ecossistema com ligas que lideram o faturamento dos esportes no mundo. A NFL, por exemplo, pode faturar, por ano, até 3x mais que a Premier League, uma das mais ricas do futebol mundial. Sendo assim, é fato que esses modelos, enquanto negócios, superam e podem ser exemplos excelentes para o Brasil. Mas, será que disputas back-to-back, com 2 ou mais jogos em dias seguidos, podem ser uma ideia realista para o nosso país?
O futebol e o basquete: diferenças e o caso do Brasil
No modelo norte-americano, os jogos em dias seguidos possibilitam um aumento do engajamento dos torcedores, e também dos apostadores. Por exemplo, em uma plataforma com mínimo de 5 reais, é possível fazer apostas pequenas e frequentes, aproveitando o intervalo curto entre partidas para testar diferentes leituras ao longo da série. Sem dúvidas, nesses aspectos, essa “disputa contínua” é bem interessante, parecendo colocar os dois times em uma competitividade ainda mais justa.
Já no Brasil, a liga principal de basquete, NBB, segue um modelo que até se aproxima da NBA, mas a liga americana leva tudo ao extremo. Na temporada regular 24/25 do New York Knicks, por exemplo, o time teve vários jogos “dia sim, dia não”, e alguns não tiveram sequer um dia de descanso. Já no time do Flamengo na NBB teve um espaçamento entre os jogos de pelo menos 48 horas. No futebol braslieiro e sul-americano, as partidas também seguem uma regra semelhante.
Fato é que partidas em dias seguidos, sem descanso, geram mais fadiga nos jogadores. Como uma pesquisa publicada na respeitada revista científica PubMed demonstrou, a ausência em jogos back-to-back reduziu em 16% as chances de lesões em jogadores da principal liga de basquete dos EUA.
Como o próprio LeBron James já disse, em entrevistas, com mais de 80 jogos por temporada, ele vê um excesso de partidas para determinar os melhores times da temporada.
Como ficaria o Brasil com o modelo back-to-back?
Por mais que o basquete talvez permita um menor intervalo entre os jogos por um menor desgaste físico, é fato que partidas com tanto pouco tempo de recuperação fazem mal aos atletas. E, se no futebol brasileiro a reclamação sobre o calendário apertado já é enorme, imagine então com esse modelo?
Na prática, é muito difícil acreditar que os clubes aceitariam algo como isso. Sem a capacidade financeira para montar um elenco com 2 ou 3 peças de reposição, então, tudo fica mais difícil. Além disso, com apenas 5 substituições por partida, enquanto no basquete, se pode substituir sem limites, parece quase impossível imaginar um cenário desse no futebol.
E no basquete? É claro que a discussão já começa a ficar mais realista. Entretanto, alguns pontos precisam ser considerados:
- A eficiência logística e os próprios investimentos no esporte no Brasil são bem inferiores. Com as longas distâncias que as viagens teriam no território grande do país, esse é um fator-chave de complicação.
- Além disso, com o menor investimento, fica bem mais difícil ter um elenco com peças de reposição a altura, enquanto nos EUA, toda a cultura está voltada para garantir isso.
- Por fim, há de se questionar a própria audiência. Há espaço nos veículos de mídia? Os patrocinadores estão preparados e interessados? Vale o risco para os atletas? É uma questão super profunda.
A localização e cultura mudam tudo: há vários esportes num só
Embora o futebol seja um esporte só, não existe só um futebol no mundo. No basquete, o mesmo é válido, é claro. Cada cultura constrói a modalidade conforme seus interesses, e claro, as regras são sempre formatadas conforme aquilo que cada país suporta. E isso não é só uma questão financeira, mas de cultura e sociedade.
Sendo assim, mesmo sem ter analisado outros esportes que também praticam o back-to-back nos EUA e em outros países, essa comparação entre futebol e basquete foi mais que suficiente para essa discussão. Por enquanto, jogos em dias seguidos parecem impensáveis no país.