A segurança nas dependências da Universidade Federal da Bahia (Ufba), em Salvador, é questionada por alunas que relatam a continuidade de casos de assédio e abordagens violentas nos campi, mesmo após a prisão de um indivíduo acusado de crimes de sequestro e estupro na instituição. O Instituto de Letras (Ilufba) é apontado como foco de ocorrências recentes, com relatos de ataques dentro dos banheiros femininos.
Desde junho, estudantes têm utilizado redes sociais para denunciar incidentes no banheiro feminino do Ilufba. Segundo relatos, agressores se escondem no local e abordam as vítimas, puxando-as e imobilizando-as. A estudante de Letras, Ingrid Halla, de 21 anos, colega das vítimas, descreveu as situações:
Eles entram no banheiro feminino e se escondem esperando alguma aluna entrar. Quando uma aluna entra, eles atacam. Puxam braço e colocam contra a parede, mas elas gritaram muito e conseguiram fugir. Isso vem acontecendo desde junho.
A própria Ingrid viveu uma situação semelhante em 2014, ao ser agarrada e puxada pelo braço no mesmo banheiro, conseguindo escapar após gritos e a chegada de amigos. Ela afirma que os agressores dos casos recentes não são os mesmos do passado e que a direção do Ilufba está ciente dos fatos.
Medidas da Gestão e Controvérsia
A vice-diretora do Ilufba, Fernanda Vita, comunicou, em e-mail datado de 16 de julho, a discentes, docentes e servidores, que um dos suspeitos dos ataques é um policial afastado, respondendo a inquérito administrativo. A gestora informou que, apesar da intensificação das rondas de porteiros no prédio, as ocorrências não foram evitadas. O comunicado também informou a interdição do banheiro feminino do segundo andar, justificada pela “diminuição do fluxo de pessoas no final do mês de julho e no mês de agosto”.
A direção do Ilufba, em contato com o Bahia Notícias, classificou o fechamento de banheiros como um “procedimento de praxe” para segurança e economia, afirmando que parte dos 44 banheiros existentes é fechada em andares de menor circulação.
Casos Anteriores e Falhas na Resposta
Outra estudante de Letras, que preferiu manter o anonimato, foi testemunha de uma das abordagens recentes no banheiro. Ela criticou a ineficácia das medidas da Ufba para coibir os assédios. A mesma aluna foi vítima de outro estudante em 2015, quando foi seguida e houve uma tentativa de entrada no banheiro da Biblioteca Reitor Macedo Costa, próximo ao Instituto de Letras.
Após as abordagens recorrentes, a discente registrou boletim de ocorrência na 7ª Delegacia de Polícia e levou o caso à ouvidoria da universidade. Segundo informações extraoficiais que a estudante obteve, o aluno agressor possuía histórico de abusos na Ufba, chegou a ser expulso, mas obteve na Justiça o direito de retornar após alegar “esquizofrenia”, retornando à instituição após cerca de um ano e meio. A estudante afirmou que se sente insegura e evita andar sozinha no campus, lamentando a percepção de que a Ufba, antes vista como um local seguro, não tem apresentado soluções efetivas.
Críticas e Posicionamento da Universidade
A atuação da Ufba diante dos recentes casos de violência tem gerado críticas não apenas entre os alunos, mas também no corpo docente. Em uma reunião recente no Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos, professores se manifestaram contra o que consideram um “silêncio” da universidade, especialmente em relação aos estupros. Para os docentes, é crucial que haja circulação de informações para proteção de possíveis novas vítimas.
Questionada, a Ufba, por meio de nota de assessoria, informou ter intensificado ações como a revisão da iluminação e poda de vegetação no campus de Ondina, além da instalação de novas câmeras e reposicionamento das existentes. A nota também mencionou um acordo com a Polícia Militar para reforço do policiamento nas vias do entorno dos campi, realizado pela Ronda Universitária. A instituição argumentou que “o aumento de episódios de violência na universidade está diretamente relacionado ao crescimento da violência em Salvador e em todo o país”, contudo, não abordou especificamente os casos ocorridos nos banheiros do Instituto de Letras.
