A inteligência artificial (IA) desponta como uma ferramenta fundamental para a transformação digital dos governos latino-americanos, promovendo avanços significativos em eficiência e transparência. A implementação dessas tecnologias, conhecida como GovTech, é considerada uma necessidade premente para superar desafios históricos na administração pública e agregar mais valor aos serviços prestados à população.
Estudos recentes sublinham o impacto potencial da IA. Uma análise da McKinsey & Company indica que governos que integram a inteligência artificial em suas políticas públicas podem reduzir em até 50% o tempo dedicado à análise e formulação de projetos de desenvolvimento econômico, além de agilizar a identificação de prioridades locais através de dados robustos. Essa eficiência permite que servidores públicos dediquem tempo a decisões mais complexas e estratégicas, enquanto a IA gerencia tarefas rotineiras e análises preliminares.
Benefícios e economia
A otimização gerada pela IA não se limita à agilidade. Um relatório da Deloitte estima que a utilização de IA generativa e algoritmos avançados na esfera governamental pode resultar em uma economia de até 1,2 bilhão de horas de trabalho humano anualmente. Isso libera recursos para atividades mais estratégicas e aprimora a experiência do cidadão com os serviços públicos, contribuindo para uma gestão mais ágil e eficaz, e ao mesmo tempo, gerando economias substanciais para os cofres públicos.
A transparência é outro pilar fortalecido pela IA. Soluções baseadas em inteligência artificial viabilizam a criação de painéis analíticos interativos e relatórios automatizados em tempo real, permitindo o monitoramento contínuo das políticas públicas. Na América Latina, a adoção dessas ferramentas já demonstra capacidade de reduzir a burocracia e otimizar a alocação de recursos. Além disso, a IA é uma aliada potente no combate à corrupção, pois processos claros e auditáveis, baseados em dados, diminuem a subjetividade e dificultam fraudes.
Desafios da transparência e soberania
Apesar do potencial, o Brasil ainda enfrenta desafios na abertura de dados públicos. Um levantamento da Open Knowledge Brasil revelou que 21 das 26 capitais brasileiras apresentam baixos índices de abertura de dados (entre 0% e 20%). Apenas São Paulo e Belo Horizonte superam a marca de 45%, ainda distante do ideal. Essa realidade reforça a urgência de investir em tecnologias que automatizem a transparência e facilitem o acesso da população às informações governamentais, promovendo uma gestão mais democrática. Segundo a Transparência Internacional, ferramentas digitais com foco em transparência ativa são essenciais na prevenção da corrupção em serviços públicos.
A soberania tecnológica da inteligência artificial no setor público é um ponto crítico. É fundamental que todas as informações e serviços processados por IA estejam localizados em território nacional, seja por meio de nuvens soberanas ou infraestrutura própria. Essa medida garante independência tecnológica, segurança dos dados e controle institucional, elementos cruciais para a proteção do interesse público em um cenário geopolítico e tecnológico complexo.
Embora a implementação da IA ofereça vastas oportunidades, impõe também questões éticas, de privacidade e de inclusão digital. O uso responsável deve ser norteado por marcos regulatórios sólidos, assegurando a proteção dos dados dos cidadãos e a equidade no acesso às soluções. O futuro do Estado está intrinsecamente ligado à sua capacidade de ser digital, ágil e orientado por dados, com a inteligência artificial desempenhando um papel central na construção de sociedades mais justas, resilientes e sustentáveis.