Modelos de inteligência artificial de visão computacional foram superados por crianças de apenas três anos em tarefas de reconhecimento visual. A revelação é parte de um novo estudo liderado por Vlad Ayzenberg, professor da Temple University, em colaboração com a Universidade Emory, cujos resultados foram publicados na revista Science Advances.
A pesquisa enfatiza a notável eficiência e robustez do sistema visual humano desde as primeiras idades, superando os mais avançados algoritmos de IA na percepção de objetos.
Eficiência humana em foco
No decorrer do experimento, crianças com idades entre três e cinco anos foram expostas por um período muito breve, de 100 milissegundos, a imagens contendo objetos diversos e distrações visuais. Mesmo diante da rapidez da apresentação e dos elementos de distração, os pequenos demonstraram uma precisão considerável ao identificar os itens.
A surpresa para os pesquisadores veio com os resultados, uma vez que a tarefa havia sido inicialmente concebida para testar adultos, presumindo-se uma alta dificuldade para o público infantil. Contudo, as crianças conseguiram superar os sistemas de inteligência artificial, com exceção daqueles modelos que foram treinados com um volume de dados visuais significativamente maior do que um ser humano seria capaz de absorver em toda a sua vida.
Cérebro infantil como modelo para a IA
Vlad Ayzenberg defende que os cérebros infantis podem servir como um valioso ponto de partida para o desenvolvimento de inteligências artificiais mais eficientes. O pesquisador observa que, enquanto crianças adquirem conhecimento a partir de poucas experiências, as IAs demandam imensas quantidades de dados e, consequentemente, um elevado consumo energético para realizar tarefas similares. Para ilustrar, o treinamento de um modelo robusto de IA, como o ChatGPT, pode gerar uma pegada de carbono até 17 vezes maior do que as emissões anuais de uma única pessoa.
O estudo reitera a relevância de compreender profundamente os mecanismos neurais que capacitam as crianças a desenvolverem habilidades perceptivas complexas de forma tão rápida. Para avançar nesse objetivo, Ayzenberg fundou o Laboratório de Aprendizagem e Desenvolvimento da Visão, uma iniciativa dedicada à exploração do cérebro infantil por meio de técnicas avançadas, como a neuroimagem funcional. O trabalho busca, além de aprimorar a inteligência artificial com base em inspirações biológicas, expandir o conhecimento sobre o desenvolvimento cognitivo humano desde os anos iniciais da vida.