A nomeação de um novo ministro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) está travada há oito meses, diretamente influenciada por intensas articulações políticas em Alagoas, que podem redefinir o futuro eleitoral de figuras como o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP). A disputa em torno da vaga no tribunal, que é uma pauta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), envolve negociações sobre as chapas majoritárias no estado para as eleições de 2026.
A procuradora Maria Marluce Caldas Bezerra, do Ministério Público de Alagoas, é um dos nomes na lista tríplice para o STJ, e sua indicação se tornou um ponto nevrálgico. Marluce é tia do prefeito de Maceió, JHC (PL), que, segundo políticos locais, busca emplacá-la na Corte. Adversários de Lira alegam que ele estaria atrasando a escolha presidencial à espera de um acordo sobre as composições eleitorais. Lira, por sua vez, nega e classifica as acusações como uma “narrativa falaciosa” para enfraquecê-lo.
O interesse de Arthur Lira é disputar uma das duas vagas ao Senado em 2026, com o objetivo de enfrentar apenas Renan Calheiros (MDB), seu adversário político. No entanto, entendimentos recentes entre o clã Calheiros e JHC ameaçam esse planejamento. Há a possibilidade de JHC não concorrer ao governo de Alagoas, como previsto, mas sim ao Senado em uma chapa com Renan, o que dificultaria os planos de Lira.
Cenário Político Alagoano
Se essa aliança entre JHC e Renan Calheiros se confirmar, a composição majoritária em Alagoas poderia ser completada com Renan Filho (MDB), atual ministro dos Transportes e senador licenciado, disputando o governo estadual. Fontes políticas em Alagoas indicam que JHC teria se comprometido a apoiar Renan Filho, afastando-se do grupo de Lira, caso a nomeação de Marluce para o STJ seja efetivada por Lula. Para o presidente, essa movimentação poderia solidificar um palanque forte no estado em 2026, com um ministro de seu governo disputando o executivo alagoano e uma chapa fiel ao Senado, incluindo um nome hoje popular em Maceió e que se desvincularia do bolsonarismo.
Aliados de Lira, contudo, questionam a viabilidade dessa “equação” proposta por JHC, apontando que algumas dessas possibilidades contrariam acordos prévios, como a própria candidatura do prefeito ao governo estadual. A aproximação de JHC com o presidente Lula é vista com cautela por aliados governistas, uma vez que o prefeito mudou do PSB para o PL entre o primeiro e segundo turno das eleições presidenciais de 2022 para apoiar Jair Bolsonaro, adversário do petista na disputa. Apesar de ensaiar a saída do PL há meses, a mudança de partido ainda não foi concretizada.
Diálogo no Alvorada
A controvérsia sobre a nomeação ao STJ foi um dos tópicos de uma reunião entre Lira e Lula em 14 de maio, no Palácio da Alvorada. A versão sobre o motivo do encontro diverge entre os grupos políticos. Enquanto alguns afirmam que o ex-presidente pediu para acompanhar Hugo Motta (Republicanos-PB) para tratar de temas como a crise do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e o represamento das emendas parlamentares, outros apontam que Lira foi convocado para a conversa. Adversários do ex-presidente da Câmara alegam que ele solicitou a Lula a não decidir a nomeação do STJ enquanto não houver um acordo sobre a chapa majoritária alagoana.
Já os aliados de Lira argumentam que o presidente o convidou para discutir diversos assuntos, sem foco específico em Alagoas. Segundo eles, a indicação ao STJ só teria sido abordada ao final do encontro, que durou mais de duas horas, por iniciativa do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT). Rui Costa teria enfatizado que a decisão de Lula não estaria vinculada ao cenário político local, e o presidente teria reiterado que não tomará nenhuma medida sem aprofundar a discussão com Lira.
A lista tríplice para a vaga no STJ inclui, além de Maria Marluce Caldas Bezerra, Sammy Barbosa Lopes, do Ministério Público do Acre, e Carlos Frederico Santos, do Ministério Público Federal. Apesar das tensões políticas e da influência de diferentes atores, Arthur Lira mantém a posição de que será candidato ao Senado em qualquer cenário, com a intenção de lançar um de seus filhos para uma vaga na Câmara dos Deputados.