Uma equipe internacional de pesquisadores anunciou o desenvolvimento de uma nova técnica sustentável para a extração e reciclagem de ouro. O método, que utiliza um composto comum e acessível, promete revolucionar a recuperação do metal valioso a partir de resíduos eletrônicos e em minas de pequeno porte, eliminando a dependência de substâncias altamente poluentes.
O estudo, cujas descobertas foram publicadas na revista Nature Sustainability, detalha o processo inovador e suas aplicações. Os pesquisadores testaram a eficácia dos compostos tanto na mineração artesanal quanto na recuperação de ouro presente no crescente volume de lixo tecnológico.
Processo Inovador de Recuperação
A nova abordagem emprega o ácido tricloroisocianúrico, um reagente frequentemente encontrado em produtos de limpeza como água sanitária e desinfetantes. Ao ser ativado com água salgada, este composto adquire a capacidade de dissolver o ouro, uma propriedade que anteriormente era restrita a químicos com alto teor de toxicidade. Após a dissolução, um polímero rico em enxofre é introduzido. Esse material possui uma afinidade seletiva pelo ouro, o que permite sua “captura” precisa, mesmo em ambientes complexos com a presença de outros metais.
“Mergulhamos em um monte de lixo eletrônico e saímos com um bloco de ouro! Espero que esta pesquisa inspire soluções impactantes para desafios globais urgentes”, afirmou Harshal Patel, um dos pesquisadores envolvidos no estudo.
Um dos grandes diferenciais da técnica é a sustentabilidade do ciclo. Após a recuperação do ouro, o polímero se degrada em suas unidades básicas, os monômeros, possibilitando a reutilização tanto do reagente quanto do próprio metal em novos processos. Isso resulta em um sistema de baixo desperdício.
Impacto Ambiental da Mineração e do Lixo Eletrônico
O ouro é um elemento crucial para a tecnologia contemporânea, com aplicações que variam da medicina à engenharia aeroespacial e diversos setores industriais. Contudo, os métodos tradicionais de extração são notórios por seus impactos ambientais adversos, utilizando substâncias como mercúrio e cianeto, que são grandes responsáveis pela poluição por mercúrio globalmente, afetando ecossistemas e a saúde humana.
Paralelamente, o lixo eletrônico representa um dos resíduos sólidos de crescimento mais rápido no mundo. Em 2022, a Organização das Nações Unidas (ONU) estimou a produção global em 62 milhões de toneladas desse tipo de lixo, com apenas 22,3% sendo devidamente coletados e reciclados. Componentes como unidades de processamento de computador e cartões de memória (RAM) são fontes ricas em metais valiosos como ouro e cobre.
“Com a crescente demanda tecnológica e social por ouro, é cada vez mais importante desenvolver métodos seguros e versáteis para purificar ouro de diversas fontes”, destacou Lynn Lisboa, cientista que participou do artigo.
Validação e Perspectivas Futuras
Os pesquisadores acreditam que este novo método oferece uma alternativa viável para mitigar os impactos ambientais negativos. A técnica foi validada em colaboração com especialistas dos Estados Unidos e do Peru, em minas de pequeno porte que tradicionalmente empregam mercúrio em seus processos de extração.
“Somos especialmente gratos aos nossos parceiros de engenharia, mineração e filantropia por apoiarem a tradução das descobertas de laboratório em demonstrações em larga escala das técnicas de recuperação de ouro”, comentou o professor Justin Chalker, químico atuante na pesquisa.
O grupo de pesquisa planeja expandir a aplicação da técnica para outras regiões de mineração e para a reciclagem em larga escala de eletrônicos. O próximo passo pode incluir uma pesquisa interdisciplinar com a participação da indústria e de grupos ambientalistas, visando enfrentar os complexos desafios que interligam economia e sustentabilidade.