Em um cenário de crescente conflito no Oriente Médio, o programa nuclear de Israel emerge como um ponto central nas discussões regionais. O governo israelense justifica suas ações contra o Irã, que iniciaram na última sexta-feira (13), alegando a necessidade de impedir o desenvolvimento de armas atômicas por parte de Teerã, o que representaria uma ameaça à sua existência. Os ataques israelenses, que incluíram bombardeios a instalações nucleares e resultaram em centenas de mortos, segundo as informações, visam desmantelar a capacidade nuclear iraniana.
No entanto, o próprio Estado de Israel mantém um programa nuclear discreto desde a década de 1950. Apesar do sigilo que envolve essas atividades, estima-se que o país possua um arsenal de pelo menos 90 ogivas atômicas, conforme levantamentos da Federação de Cientistas Americanos e da Associação de Controle de Armamentos, ambas dos Estados Unidos.
Israel não assina tratado de não proliferação nuclear
Israel é a única nação do Oriente Médio que não é signatária do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). Essa condição o exime de se submeter às inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) responsável por monitorar atividades nucleares. A ausência de fiscalização internacional sobre o programa israelense é uma preocupação, com especialistas apontando para uma “abordagem enviesada do direito internacional”, como afirma Robson Valdez, professor de relações internacionais do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP).
Israel tem um programa nuclear que manipula, instrumentaliza e desenvolve à revelia da AIEA. Há uma abordagem enviesada do direito internacional. Para os inimigos, todo o rigor da Lei internacional e, para os parceiros, como Israel, notório violador do direito internacional, há uma retórica contemporizadora para suas ações ilegais.
Fontes indicam que os primeiros reatores nucleares de Israel teriam sido fornecidos pelos Estados Unidos no contexto do programa “Átomos para a Paz”. Contudo, a construção das bombas nucleares teria ocorrido sem o conhecimento prévio do aliado. A Agência Central de Inteligência (CIA) teria descoberto a localização da produção apenas três anos após seu início, segundo informações da Agência Brasil.
Histórico e estimativas do arsenal
Documentos e relatos históricos reforçam a existência do programa nuclear israelense. Em 1968, Carl Ducketts, alto funcionário da CIA, afirmou que Israel detinha três bombas atômicas, produzidas com urânio enriquecido supostamente obtido por contrabando dos Estados Unidos. Mais tarde, entre 1968 e 1973, Ari Ben-Menashe, agente do serviço secreto israelense Mossad, revelou que 13 bombas atômicas foram fabricadas, cada uma com poder destrutivo significativamente maior que as utilizadas em Hiroshima e Nagasaki.
Em 2008, o ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter, estimou o arsenal israelense em 150 ogivas nucleares. Outras análises sugerem que esse número pode ser ainda maior, chegando a 300 bombas atômicas. O governo de Israel, por sua vez, mantém sua política de não comentar publicamente sobre o tema, enquanto o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declara que o objetivo dos ataques no Irã é impedir que o país vizinho construa armas nucleares que ameaçariam a segurança israelense.