O Brasil, reconhecido por sua vasta biodiversidade, abriga uma variedade de espécies animais que, embora cruciais para o equilíbrio ecológico, possuem mecanismos de defesa capazes de provocar acidentes sérios. Alguns desses seres, muitas vezes despercebidos no cotidiano, representam um risco para a população, especialmente em áreas próximas a centros urbanos e regiões de convivência humana.
É fundamental diferenciar os conceitos de veneno e peçonha. Veneno se refere a qualquer substância tóxica produzida por um animal que pode causar danos ao organismo humano, introduzida por ingestão ou contato. Já os animais peçonhentos possuem estruturas especializadas, como presas ou ferrões, para inocular ativamente essa toxina.
Espécies que demandam cuidado
Entre os animais que compõem essa lista de atenção no território brasileiro, destacam-se a formiga-lava-pés (Solenopsis saevissima), comum em diversas regiões do país, especialmente em jardins e quintais. Sua picada libera uma toxina que provoca dor intensa e duradoura, podendo gerar reações alérgicas graves, como choque anafilático, em indivíduos sensíveis.
No ambiente aquático, o peixe-niquim (Thalassophryne nattereri), encontrado no litoral nordestino, e o peixe-escorpião (Scorpaena plumieri), presente na costa brasileira do Nordeste ao Sudeste, representam ameaças aos banhistas e pescadores. Ambos possuem espinhos com glândulas venenosas, que causam dor aguda, inchaço e, em casos mais severos, lesões que podem evoluir para necrose local. O niquim, por se enterrar em águas rasas, torna-se um perigo oculto.
Aranhas e lagartas perigosas
A viúva-negra (Latrodectus curacaviensis), com sua característica mancha avermelhada no abdome da fêmea, habita estados como Ceará, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo. Apesar de não ser agressiva, pica quando se sente comprimida. Seu veneno neurotóxico causa dor local intensa, suor e contrações musculares, mas acidentes no Brasil são geralmente de baixa gravidade e não há registros de óbitos.
Nas regiões Sul e Sudeste, a lagarta-de-fogo (Lonomia obliqua) merece atenção especial. É a única lagarta cujos pelos urticantes podem causar acidentes graves. O contato pode provocar dor intensa, inchaço e distúrbios de coagulação que, em casos extremos, levam a hemorragias e até à morte. A incidência desses acidentes é maior nos meses mais quentes, entre novembro e dezembro no Sul, e de janeiro a abril no Sudeste. O tratamento, que envolve a administração de soro antilonômico produzido pelo Instituto Butantan, deve ser iniciado rapidamente.
Por fim, a arraia-de-água-doce (Potamotrygon spp.), presente em rios da bacia amazônica e no Rio São Francisco, possui um ferrão com potente veneno na cauda. Embora não seja agressiva, o contato acidental pode resultar em dor severa, inchaço e necrose tecidual, exigindo intervenção médica imediata para evitar complicações.