Um asteroide identificado como 2024 YR4 tem uma probabilidade de 3,8% de colidir com a Lua em dezembro de 2032, conforme projeções da NASA. Inicialmente monitorado por seu potencial risco à Terra, o objeto celeste agora se tornou foco de interesse científico devido ao seu novo alvo. As informações foram debatidas em recente episódio do Programa Olhar Espacial, do canal Olhar Digital, contando com a participação do astrônomo amador Cristóvão Jacques, sócio fundador do Observatório SONEAR, em Oliveira, Minas Gerais.
De ameaça terrestre a alvo lunar
A descoberta do asteroide 2024 YR4 em dezembro de 2024 gerou apreensão inicial na comunidade científica global. Os primeiros cálculos indicavam uma chance superior a 1% de colisão com a Terra. Após dois meses, essa probabilidade chegou a atingir 3,1%. No entanto, observações realizadas no início de 2025 com o Telescópio James Webb e novos cálculos da NASA trouxeram alívio, reduzindo significativamente o risco terrestre para apenas 0,004%.
Apesar da diminuição da ameaça ao nosso planeta, os mesmos dados da agência espacial americana apontaram para a nova possibilidade de impacto lunar. O asteroide, com cerca de 60 metros de comprimento – equivalente a um prédio de 20 andares – e composto por rocha, e não por metal, é considerado “menos preocupante” em termos de composição, segundo o apresentador Marcelo Zurita. Astrônomos como Jacques e Zurita agora veem o cenário como uma chance única para a ciência.
O impacto e seus efeitos
As estimativas da NASA preveem que a colisão entre o asteroide e a Lua ocorra por volta das 12h10 (horário de Brasília) de dezembro de 2032. Devido ao fuso horário, o evento não será visível para a maior parte do Ocidente, incluindo o Brasil, mas poderá ser observado por países no Leste do Oriente, como Austrália e Nova Zelândia.
De acordo com Cristóvão Jacques, o espetáculo será visível a olho nu para quem estiver nos locais adequados. Da Terra, observadores poderão notar um intenso clarão na superfície lunar, seguido pela formação de uma nuvem de poeira. Em solo lunar, uma quantidade expressiva de material será levantada, com parte dos detritos sendo projetada para o espaço. Contudo, Jacques esclarece que esses fragmentos não devem representar um risco significativo para a Terra.
“Grande parte desse material que será ejetado vai voltar para a Lua pela própria gravidade. Uma parcela dos detritos conseguirá ultrapassar a velocidade de escape e entrará possivelmente em órbita lunar ou da Terra, e alguns deles tem uma baixa chance de cair na Terra depois de algum tempo”, explicou.
Cratera e pesquisa científica
O impacto do 2024 YR4 deverá resultar na formação de uma nova cratera na superfície lunar.
“Pelo tamanho do objeto e pela massa que ele tem, abriria provavelmente uma cratera visível aqui da Terra”, comentou Marcelo Zurita.
Essa nova marca no satélite natural será uma oportunidade valiosa para cientistas estudarem o subsolo lunar. A energia da colisão poderá fundir materiais e expor compostos ainda não analisados, mas de grande interesse para a comunidade astronômica.
“Uma das coisas mais interessantes seria analisar a luz do impacto com um espectrógrafo. Poderíamos encontrar água, um dos elementos mais procurados na Lua atualmente”, disse Zurita.
Após o evento, a expectativa é de que a Lua retorne à sua normalidade.
“Não vai mudar a órbita da Lua, nem a rotação e nada provavelmente aconteceria com a Terra”, concluiu Jacques.
Novas observações do asteroide 2024 YR4 serão possíveis a partir de 2028, quando o objeto se aproximar novamente o suficiente para ser detectado por telescópios terrestres, permitindo previsões mais precisas sobre o impacto. O astrônomo Cristóvão Jacques destacou a importância do Observatório Vera C. Rubin, que inicia operações em junho, no Chile. A expectativa é que, ao longo de uma década, o Rubin, localizado nos Andes, capture vastas imagens noturnas do céu do Hemisfério Sul, dobrando o número de asteroides próximos da Terra já descobertos e, potencialmente, encontrando outros objetos similares ao 2024 YR4 no futuro.