O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta sexta-feira (13) que a Meta, empresa responsável pelo Facebook e Instagram, apresente em 24 horas todas as informações sobre o perfil “@gabrielar702”, supostamente utilizado pelo tenente-coronel Mauro Cid para trocar mensagens relacionadas ao processo que investiga uma suposta trama golpista.
Detalhes da determinação judicial
A decisão atende a um pedido da defesa de Mauro Cid, após reportagem da revista Veja revelar que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro teria mentido durante depoimento prestado ao STF na última segunda-feira (9). Segundo a publicação, Cid teria utilizado o perfil para comentar sobre o processo em que fechou acordo de delação premiada.
Na determinação, Moraes exige que a Meta encaminhe ao Supremo:
- Dados cadastrais do perfil, incluindo email e número de telefone;
- Informações sobre outros logins vinculados à conta;
- Detalhes sobre os dispositivos utilizados para acesso (computadores ou notebooks);
- Todas as mensagens enviadas e recebidas no período entre 1º de maio de 2023 e 13 de junho de 2025.
Revelações da revista Veja
De acordo com a revista Veja, as mensagens teriam sido trocadas entre 29 de janeiro e 8 de março de 2024, aproximadamente cinco meses após a homologação do acordo de delação premiada de Cid. Nas supostas conversas, o militar criticaria os delegados da Polícia Federal e o próprio ministro Alexandre de Moraes pela condução do inquérito sobre a trama golpista.
Em uma das mensagens atribuídas a Cid, o perfil afirma que Moraes “já teria a narrativa pronta” antes mesmo da conclusão da investigação: “Ele já deve ter pronto a ordem de prisão do PR (presidente Bolsonaro). Não precisa de prova. Só de narrativas”.
A reportagem também menciona que o perfil teria compartilhado detalhes sobre as etapas da colaboração premiada de Cid, alegando que os investigadores “queriam colocar palavras na boca” dele.
Defesa nega autenticidade das mensagens
Após a publicação da reportagem, a defesa de Mauro Cid negou veementemente a autoria das mensagens e classificou o conteúdo como uma “falsidade grotesca”. Os advogados do militar afirmaram que o perfil “não é e nunca foi utilizado por Mauro Cid” e solicitaram ao STF a abertura de uma investigação sobre a titularidade da conta.
“Basta uma leitura leiga, e até simplista, que pode ser comparada com todas as mensagens extraídas de seu celular que estão colacionadas na ação penal a que responde, para se perceber que as expressões utilizadas por quem as escreveu não são de autoria de Mauro Cid”, argumentou a defesa.
Os advogados destacaram ainda que as mensagens apresentam “erros crassos de concordância verbal” e uma “forma equivocada de se referir aos Generais das Forças Armadas”, características que, segundo eles, não corresponderiam ao estilo de escrita do ex-ajudante de ordens.
Operação da PF e suspeita de fuga
No mesmo dia em que Moraes determinou a abertura dos dados do perfil, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão na casa de Mauro Cid em Brasília. O tenente-coronel também prestou depoimento na sede da PF na capital federal.
Inicialmente, como revelado pela CNN Brasil, o ministro Alexandre de Moraes havia emitido uma ordem de prisão contra Cid, mas posteriormente revogou a medida. A decisão inicial de prisão foi tomada de madrugada, por volta da 1h, mas foi alterada na manhã seguinte para apenas busca e apreensão.
Além da investigação sobre o perfil no Instagram, Cid é suspeito de planejar uma fuga do Brasil para Portugal com o apoio do ex-ministro do Turismo Gilson Machado, que foi preso na mesma operação. Segundo as investigações, Machado teria atuado junto ao Consulado de Portugal em Recife, em maio de 2025, para tentar obter um passaporte português para Cid.
O ex-ministro, no entanto, nega as acusações e afirma que estava apenas tentando renovar o passaporte de seu pai, de 85 anos. “Não matei, não trafiquei drogas, não tive contato com traficante. Apenas pedi um passaporte para meu pai, por telefone, ao Consulado Português do Recife”, declarou Machado a jornalistas.
Após passar o dia detido no presídio Cotel, em Abreu e Lima (PE), Machado teve sua prisão revogada por Moraes na noite de sexta-feira. Ao deixar a prisão, o ex-ministro disse à CNN que está à disposição da Justiça para esclarecer o que chamou de “mal-entendido”.
Impacto no acordo de delação
As mensagens reveladas pela revista Veja, caso confirmadas, podem colocar em risco o acordo de delação premiada firmado por Mauro Cid, já que uma das condições impostas pelo STF era justamente a proibição de usar redes sociais e de se comunicar com outros investigados.
No acordo homologado em setembro de 2023, Cid solicitou como benefícios:
- Perdão judicial ou pena privativa de liberdade não superior a 2 anos;
- Restituição de bens e valores apreendidos;
- Extensão dos benefícios para pai, esposa e filha maior de idade;
- Garantia de segurança para o colaborador e familiares.
A delação de Cid é considerada uma das principais provas da ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado, na qual ele próprio é réu — assim como Bolsonaro e outros ministros do seu governo, incluindo o general Walter Braga Netto, preso preventivamente desde dezembro de 2024.
A Meta tem até este sábado (14) para responder ao ofício do ministro Alexandre de Moraes e entregar todas as informações requisitadas sobre o perfil no Instagram.