A farmacêutica brasileira EMS marcará história em agosto de 2025 ao lançar a Olire, a primeira caneta injetável para tratamento da obesidade com fabricação 100% nacional. O medicamento, que tem como princípio ativo a liraglutida, promete revolucionar o mercado brasileiro de medicamentos para emagrecimento ao oferecer preços entre 10% e 20% mais baixos que as marcas de referência importadas.
A aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi concedida em dezembro de 2024, tornando a EMS a primeira fabricante totalmente brasileira a ingressar no mercado global de análogos de GLP-1. Junto com a Olire, destinada ao tratamento da obesidade, a empresa também lançará o Lirux, voltado para o controle do diabetes tipo 2.
Tecnologia nacional compete com gigantes farmacêuticas
O desenvolvimento dos medicamentos representa um marco tecnológico para o Brasil. Segundo Carlos Sanchez, presidente da EMS, a empresa “desenvolveu um produto no país, com tecnologia brasileira, do zero”. A fabricação será realizada desde a matéria-prima até o produto acabado na nova fábrica da farmacêutica em Hortolândia, São Paulo.
A Olire será indicada para jovens a partir de 12 anos no tratamento da obesidade e condições relacionadas, como dislipidemia. O medicamento terá dose máxima de 3 mg ao dia, aplicada por via subcutânea no abdômen, coxa ou parte superior do braço, em qualquer horário e independentemente das refeições.
Mercado bilionário em expansão
O lançamento da Olire ocorre em um momento estratégico para o mercado brasileiro. Dados do Atlas da Federação Mundial da Obesidade mostram que 68% da população adulta brasileira vive com sobrepeso e 31% com obesidade. As projeções indicam que 119,1 milhões de brasileiros terão índice de massa corporal elevado em 2030.
O mercado de medicamentos para obesidade movimenta cifras bilionárias globalmente. Segundo estudo do Barclays, o setor pode movimentar até US$ 199 bilhões por ano nos próximos anos. No Brasil, apenas o Ozempic gerou R$ 3,1 bilhões em vendas nos últimos 12 meses.
Diferencial tecnológico e menor custo
A EMS utilizará peptídeos sintéticos para produzir a liraglutida, diferentemente dos medicamentos importados que empregam bactérias geneticamente modificadas. Segundo a empresa, essa tecnologia garante maior pureza ao medicamento e permite um processo de fabricação mais rápido e econômico.
A previsão inicial é produzir 200 mil canetas de ambos os medicamentos ainda em 2025, com meta de ultrapassar 500 mil unidades em 12 meses. A empresa projeta que até o fim de 2026, os dois medicamentos devem gerar receita de R$ 100 milhões.
Aprovações recentes ampliam opções de tratamento
O cenário brasileiro para tratamento da obesidade tem se expandido rapidamente. Em junho de 2025, a Anvisa aprovou o uso do Mounjaro (tirzepatida) para perda de peso, além de sua indicação original para diabetes. O medicamento, considerado atualmente a substância mais efetiva na perda de peso disponível no mercado, pode proporcionar redução superior a 20% do peso corporal em nove meses.
Paralelamente, está em discussão na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) a inclusão da semaglutida 2,4 mg (Wegovy) na rede pública de saúde. A consulta pública, aberta até 30 de junho, prevê o tratamento para pessoas com obesidade e histórico de doença cardiovascular estabelecida, sem diabetes e com mais de 45 anos.
Alertas sobre uso seguro
Especialistas reforçam a importância do acompanhamento médico no uso desses medicamentos. Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica, alerta que “confunde-se o tratamento da obesidade com o desejo social de emagrecer”.
Os efeitos colaterais mais comuns incluem náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal e refluxo gastroesofágico. Estudos indicam risco 9,09 vezes maior de pancreatite em usuários de medicamentos à base de semaglutida ou liraglutida comparado a outros tratamentos.
A EMS inicia a produção em fase piloto com lançamento previsto para agosto de 2025, marcando o início de uma nova era na fabricação nacional de medicamentos para obesidade. A empresa planeja expandir sua linha com canetas de semaglutida em 2026, quando a patente do princípio ativo expirará no Brasil.